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Vaticano abre portas para padres casados e cria dilema

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  • O ex-padre anglicano Robin Farrow (de óculos) é casado e tem quatro filhas, mas será ordenado na Igreja Católica em abrilO ex-padre anglicano Robin Farrow (de óculos) é casado e tem quatro filhas, mas será ordenado na Igreja Católica em abril.  Com quatro filhas ainda crianças e um bebê para chegar em alguns meses, a mulher de Robin Farrow já avisou: ele precisará levar a caçula para o trabalho nos dias mais complicados.

Fernando Duarte

Da BBC Brasil em Londres  –  09/02/201507h35

É uma situação que dificilmente chamaria a atenção em qualquer lugar do mundo, não fosse o fato de que Farrow está prestes a receber sua ordenação como padre católico.

O britânico faz parte de um grupo de novos padres anglicanos que se converteram à Igreja Católica no Reino Unido sem a obrigação de adotar o celibato – ao contrário do que se exige dos sacerdotes originalmente católicos.

“Sei que muitos fiéis católicos podem estranhar a figura de um padre casado. Mas na minha paróquia eu tenho conversado com os fiéis há meses e recebi muitas palavras de apoio à minha situação. Estudei para uma vida religiosa desde os sete anos”, conta Farrow, de 42 anos, em entrevista à BBC Brasil.

Dispensa especial

A regra para sacerdotes anglicanos está em vigor desde 2009, chancelada pelo então papa Bento 16. A decisão surpreendeu por causa do perfil conservador do pontífice alemão, e muitos analistas do Vaticano a viram como uma manobra para atrair para a Igreja anglicanos insatisfeitos com algumas decisões mais polêmicas de seu ramo do cristianismo, em especial a ordenação de bispos homossexuais.

O celibato, imposto no século 12, simboliza o triunfo do espírito sobre a carne. A premissa é de que apenas a dedicação total à Igreja faz um padre.

A possibilidade de dispensa no Reino Unido teve o objetivo de reforçar os quadros católicos num país em que o catolicismo é minoria. No entanto, há limites para a dispensa.

Papa Bento
Bento XVI foi quem abriu as portas para mais conversões de padres anglicanos e aceitou novas ordenações especiais

“Se por acaso minha esposa falecesse, que Deus proíba, eu não poderia casar de novo”, conta Farrow.

O divórcio também está fora de questão.

Amazônia

Casos como o de Farrow alimentam o argumento dos defensores de uma revisão da questão celibatária por parte da Igreja. Entre os que propõem a flexibilização está Dom Erwin Kautler, bispo austríaco que há 30 anos é o responsável pelo Prelado do Xingu, no Pará.

Dom Erwin
Bispo do Xingu, Dom Erwin diz contar com apenas 27 para 800 comunidades da região

Mais conhecido por seu envolvimento em causas ambientais e pelas críticas à injustiça social na região Norte do Brasil, Dom Erwin tem expressado recentemente sua preocupação com a escassez de sacerdotes a seu dispor. Uma das maiores circunscrições eclesiásticas do Brasil, com 365 mil quilômetros quadrados, o Xingu dispõe apenas de 27 padres.

Não é preciso muito esforço matemático para entender o problema de Dom Erwin. E o bispo não vê outra solução que não uma flexibilização do Vaticano em relação ao celibato.

Ele cita por exemplo a regra de que os diáconos, clérigos de quem não se exige o celibato, possam celebrar alguns sacramentos, incluindo o batismo, mas não a comunhão.

“Não estou defendendo o fim do celibato. Defendo que presidir a celebração da eucaristia, por exemplo, não seja um prerrogativa exclusiva de um homem celibatário”, afirma o bispo à BBC Brasil.

“O que muitos bispos querem – e sou um deles – é propor outro tipo de sacerdote ao lado do tradicional. E tomar uma posição em favor de comunidades como as da Amazônia, que praticamente estão excluídas da Eucaristia. Quem optar pela vida celibatária tem todo o direito de fazê-lo. E há inúmeras pessoas, tanto homens e mulheres, que fazem essa opção e são felizes.”

De acordo com estatísticas apresentadas por um estudo da universidade americana de Georgetown, citando documentos do Vaticano, o número de católicos no mundo cresceu 64% entre 1975 e 2008, atingindo pela primeira vez a casa de 1 bilhão. O mesmo estudo, no entanto, estima que o número de padres no mundo seja de pouco mais de 400 mil e que tenha estacionado nos últimos 40 anos.

Detalhe do Vaticano
Segundo estudos, o número de padres ordenados no mundo teria estacionado nos últimos 40 anos, enquanto o de fiéis disparou

No Brasil, no mais recente censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 120 milhões de brasileiros se declararam católicos. O Censo Anual da Igreja Católica no Brasil estima em cerca de 22 mil o número de padres.

Escândalo

Especialistas citam diversas causas para a desproporcionalidade, incluindo uma redução no número de frequentadores de missas. Mas o imenso sacrifício pessoal exigido dos interessados em virar padre frequentemente é citado não só para desestimular novas chegadas, mas como fator de “deserções”.

Na Itália, bem perto das muralhas do Vaticano, estima-se que 6 mil padres tenham abandonado a batina para assumir ou iniciar relacionamentos. O país atualmente tem 33 mil padres.

O papa Francisco
O papa Francisco tem recebido pedidos para reavaliar a posição da Igreja Católica em relação ao celibato

A discussão ganhou força depois da revelação de diversos escândalos de pedofilia na Igreja nos últimos anos.

“Ninguém discute que o celibato tem seu valor, mas ele deve ser facultativo justamente para evitar desvios de comportamento por quem não está preparado para assumir um compromisso tão ilustre”, explica Alex Walker, padre britânico que em 1988 deixou a vida religiosa para se casar.

Atualmente, ele faz parte do Advent Group, que pressiona por mudanças na postura do Vaticano e oferece assistência para sacerdotes que sigam o mesmo caminho de Walker.

Padre dando mão à moça
Na Itália, calcula-se que milhares de padres deixaram o sacerdócio nos últimos para se casar.

“Estou casado há 25 anos e não teria deixado a Igreja se o celibato fosse opcional. Conheço muitos fieis que prefeririam que seus padres pudessem se casar.”

Resistência

Dom Erwin diz ter apresentado seu caso ao papa Francisco, mas acredita que só uma articulação dos bispos brasileiros junto ao Vaticano possa levar a questão adiante.

O mais recente pronunciamento do pontífice sobre o celibato ocorreu em agosto do ano passado. Em entrevista ao jornal italiano La Repubblica, Francisco é citado como admitindo que a exigência havia “criado problemas” para a Igreja.

Não são apenas os anglicanos que conseguem ser exceção à regra. Nos Ritos Orientais, um ramo autônomo pouco conhecido do Catolicismo, os padres podem ser casados.

Paul Sullins
Para o sociólogo e padre casado Sullins, a posição da igreja não é contraditória por causa da aceitação dos anglicanos convertidos

Curiosamente, porém, padres de exceção também estão entre os defensores dostatus quo católico.

É o caso de Paul Sullins, padre americano casado convertido ao catolicismo. Sociólogo da Universidade Católica Americana, em Washington, ele lançará em livro em abril um estudo sobre padres casados nos EUA – o número segundo ele, chega a cem.

“O exemplo de alguém que renuncia ao casamento e ao sexo numa sociedade tão sexualizada quanto a nossa é algo formidável. E este sacrifício tem um valor institucional importante para a Igreja”, diz o sociólogo.

Robin Farrow concorda: “A Igreja sofreria muito em termos de imagem junto aos fiéis se adotasse muitas mudanças nesse sentido. O celibato ajudou muito a Igreja em termos de carisma”.

Fernando Duarte

FONTE: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/02/150203_gb_celibato_fd
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A lei do celibato obrigatório

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É contraditório afirmar o celibato como um carisma e, depois, impô-lo como lei. Por isso, muitas vozes autorizadas na Igreja pedem uma reflexão séria sobre o tema.

Há muito que o cardeal Carlo Martini faz apelos nesse sentido. Agora, junta-se-lhe o cardeal Ch. Schönborn, de Viena. O bispo auxiliar de Hamburgo, J.-J. Jaschke, sem pôr em causa o celibato livre, afirmou que “a Igreja Católica se enriqueceria com a experiência de padres casados”.

por ANSELMO BORGES* 10 abril 2010

Dizia-me há dias um colega historiador que a lei do celibato obrigatório para os padres fez mais mal à Igreja e aos homens e mulheres do que bem. E eu estou com ele.

Jesus foi celibatário como também São Paulo. Mas foram-no por opção livre, para entregar-se inteiramente a uma causa, a causa de Deus, que é a causa dos seres humanos na dignidade livre e na liberdade com dignidade. Mas nem Jesus nem Paulo exigiram o celibato a ninguém. Jesus disse expressamente que alguns eram celibatários livremente por causa do Reino de Deus.

E São Paulo escreveu na Primeira Carta aos Coríntios que permanecer celibatário é um carisma, e, por isso, “para evitar o perigo de imoralidade, cada homem tenha a sua mulher e cada mulher, o seu marido”. Há a certeza de que pelo menos alguns apóstolos eram casados, incluindo São Pedro. Na Primeira Carta a Timóteo lê-se: “O bispo deve ser homem de uma só mulher.”

Foi lentamente que a lei do celibato se foi impondo na Igreja Católica, embora com excepções: pense-se, por exemplo, nas Igrejas orientais ou nos anglicanos unidos a Roma.

Na base do celibato como lei, há razões de vária ordem:

  • imitar os monges e o seu voto de castidade,
  • manter os padres e os bispos livres para o ministério,
  • não dispersar os bens eclesiásticos,
  • evitar o nepotismo…

A concepção sacrificial da Eucaristia foi determinante, pois o sacrifício implica o sacerdote e a pureza ritual.

Assim, o bispo de Roma Sirício (384-399) escreveu: “Todos nós, padres e levitas, estamos obrigados por uma lei irrevogável a viver a castidade do corpo e da alma para agradarmos a Deus diariamente no sacrifício litúrgico.”

Neste movimento, a Igreja foi-se tornando cada vez mais rigorosa, tendo papel decisivo o Papa Gregório VII (1073-1085), com o seu modelo centralista: da reforma com o seu nome – reforma gregoriana – fez parte a obrigação de padres e bispos se separarem das respectivas mulheres e a admissão à ordenação sacerdotal apenas de candidatos celibatários. Foi o II Concílio de Latrão (1139) que decretou a lei do celibato, proibindo os fiéis de frequentarem missas celebradas por padres com mulher.

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Lideranças da Federação Latino-americana de Padres casados- Buenos Aires 2011

A distância entre a lei e o seu cumprimento obrigou a constantes admoestações e penas para os prevaricadores, como se pode constatar no decreto do Concílio de Basileia (1431-1437) sobre o concubinato dos padres. Lutero ergueu-se contra a lei, respondendo-lhe o Concílio de Trento: “É anátema quem afirmar que os membros do clero, investidos em ordens sacras, poderão contrair matrimónio.”

Os escândalos sucederam-se, mesmo entre Papas: Pio IV, por exemplo, que reforçou a lei, teve três filhos. O famoso exegeta Herbert Haag fez notar que a contradição entre teoria e prática ficou eloquentemente demonstrada durante o Concílio de Constança: os seus participantes tiveram à disposição centenas de prostitutas registadas.

Os escândalos de pedofilia por parte do clero fizeram com que o debate, proibido durante o Concílio Vaticano II e ainda, em parte, tabu, regressasse.

  • Se não é correcto apresentar o celibato como a causa da pedofilia – pense-se em tantos casados pedófilos, concretamente no seio das famílias -,
  • também é verdade que a lei do celibato enquanto tal não é a melhor ajuda para uma sexualidade sã.

Muitos perguntam, com razão, se uma relação tensa com a sexualidade por parte da Igreja não terá aqui uma das suas principais explicações.

Seja como for, o celibato obrigatório não vem de Jesus, é uma lei dos homens, e, como disseram os apóstolos: “Importa mais obedecer a Deus do que aos homens.” E os bispos e o Papa são homens.

É contraditório afirmar o celibato como um carisma e, depois, impô-lo como lei. Por isso, muitas vozes autorizadas na Igreja pedem uma reflexão séria sobre o tema.

Há muito que o cardeal Carlo Martini faz apelos nesse sentido. Agora, junta-se-lhe o cardeal Ch. Schönborn, de Viena. O bispo auxiliar de Hamburgo, J.-J. Jaschke, sem pôr em causa o celibato livre, afirmou que “a Igreja Católica se enriqueceria com a experiência de padres casados”.

*Anselmo Borges

professor, escritor, missionário da Boa Nova.

FONTE: http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1540144&seccao=Anselmo%20Borges&tag=Opini%E3o%20-%20Em%20Foco&page=-1

”O problema dos padres casados está na minha agenda.” A última abertura do Papa Francisco

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A reportagem é do jornal La Repubblica, 19-02-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Na celebração, estavam presentes sete padres que festejavam o seu 50º aniversário de sacerdócio, mas também cinco sacerdotes que abandonaram o ministério, porque se casaram.

À pergunta de um dos padres presentes, Giovanni Cereti, sobre a questão dos padres casados (na qual se lembrava o caso das Igrejas orientais, em que os homens casados podem ser ordenados sacerdotes, e dos milhares de padres casados de rito latino que, ao contrário, não podem celebrar), Bergoglio respondeu de surpresa: “O problema está presente na minha agenda”.

Trata-se de uma nova abertura do pontífice, que segue as aberturas que surgiram durante os trabalhos do Sínodo Extraordinário sobre a família, tais como as sobre os gays e sobre a eucaristia aos divorciados em segunda união.

Foto Oficial MFPC - XX 2015

XX Encontro Nacional das Famílias dos Padres casados do Brasil (MFPC) em Florianópolis, em janeiro de 2015. Estima-se que haja cerca de 7.000 padres casados no Brasil

Segundo notícias publicadas no Brasil, alguns meses atrás, o papa teria escrito ao cardeal brasileiro Claudio Hummes uma carta sobre a possibilidade de iniciar uma reflexão sobre o celibato eclesiástico, relativa aos chamados “viri probati”, ou seja, homens de idade não jovem, casados, que levam uma vida familiar e religiosa exemplar, e aos quais alguns consideram que poderiam ser confiadas tarefas na Igreja como sacerdotes.

A notícia da carta de Francisco, no entanto, foi redimensionada pelo porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi, para o qual “não há nenhuma carta do papa ao cardeal Hummes sobre a matéria indicada”. Mas, acrescentou, o jesuíta, é verdade que o papa convidou, em mais de uma ocasião, os bispos brasileiros a buscarem e proporem com coragem soluções pastorais que eles considerem como adequadas para enfrentar os grandes problemas pastorais do seu país”.

Aos sacerdotes romanos reunidos na Sala Paulo VI, Bergoglio pediu que “recuperem o fascínio da beleza”, isto é, “aquele estupor que te atrai e te mantém em contemplação, gerado pelo encontro com Deus”, e dedicou uma longa passagem às homilias, àquela “ars celebrandi” que, para os sacerdotes, é “um verdadeiro desafio”.

Justamente aos sacerdotes, o papa dedicou um novo tuíte: “Onde existem homens e mulheres que consagraram a Deus a sua vida, há alegria”.

“Não sejam showmen”, disse Francisco ao clero presente no encontro, depois de ter se referido à divisão entre aqueles sacerdotes que pregam espontaneamente e aqueles que o fazem em uma atmosfera artificial, distante daquele autêntico “estupor” que deve derivar da oração e do encontro divino.

Francisco insistiu sobre o “estupor”, mas também sobre outros aspectos, como “entrar e fazer entrar no mistério”: “Se sou excessivamente rubricista e rígido, então – explicou – toda a força está nessa forma Se sou o protagonista, nem sequer faço entrar no mistério”. Ao contrário, com a sua atitude, o sacerdote “deve fazer com que o Senhor provoque”.

Quem pediu ao pontífice uma “reflexão sobre um tema muito importante para os sacerdotes, que pregam bem, mas que sempre podem melhorar”, foi o cardeal Agostino Vallini, vigário do papa para a diocese de Roma, que definiu a escuta do papa como um “banho salutar e uma luz no caminho sacerdotal”.

Na introdução, o papa contou também uma simpática anedota: em 2005, quando interveio sobre o tema das homilias em uma “plenária” da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, o cardeal Jorge Mario Bergoglio recebe duas críticas de colegas ilustres, ambos alemães: o cardeal Meisner (que era o arcebispo de Colônia) e o então cardeal Joseph Ratzinger, que o repreendeu porque, no seu discurso, faltava o “sentir-se diante de Deus”. “Ele tinha razão. Eu não falei disso“, revelou o Papa Francisco.

 

 

FONTE: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/540054-o-problema-dos-padres-casados-esta-na-minha-agendaq-a-ultima-abertura-do-papa-francisco

”Se for preciso, o Papa Francisco vai abrir aos padres casados, sem hesitar.”

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“Um cardeal diria que o celibato dos padres é uma tradição venerável, que não pode ser tratada como uma questão banal, de consumo carnal ou erótico. Eu diria que essa é a sua vocação, o seu chamado, a sua vida. Exatamente como pessoa casada, eu diria que o seu matrimônio é o que ele quis e o que mais desejou. Que é o que ele ama. Que é a plenitude de sua vida.” Foto: Vvox.it –  Entrevista com Alberto Melloni

A reportagem é de Virginia Della Sala, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 20-02-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Alberto Melloni é um historiador italiano, especialista em história do cristianismo e, particularmente, do Concílio Vaticano II. Em março, ele vai publicar, pela editora Il Mulino, um livro intitulado Amore senza fine, amore senza fini [Amor sem fim, amor sem fins] sobre o matrimônio.

 

Eis a entrevista.

O celibato, como a concepção para o matrimônio, faz parte da vocação do sacerdote?

De um ponto de vista espiritual, é a vocação para o Reino de Deus. É o modo pelo qual os padres respondem à busca de Deus na vida, em todas as coisas, das maiores às menores. Representa uma escolha à qual se deve ser fiel. Fala-se de vocação celibatária.

Existe também uma vocação sacerdotal não celibatária?

Sim. Na doutrina católica, deve-se distinguir o “estado de vida”, que pode ser celibatário ou uxorado [casado], e que prevê o chamado pessoal a uma das duas, do “ministério”. As duas coisas estão desvinculadas, mas há o costume de reservar o sacerdócio àqueles que fizeram uma escolha de vida de celibato. Não é Deus quem impõe isso: é uma escolha de direito humano, uma obrigação de disciplina, não de direito divino, como, ao contrário, é o fato de reservar o sacerdócio só aos homens.

Por que para a Igreja é tão importante que o sacerdócio seja reservado aos célibes?

O celibato foi inserido com uma norma reformadora, uma espécie de decreto medieval para a anticorrupção, pelos reformadores gregorianos do século XI. Servia para impedir que o episcopado se tornasse um cargo hereditário. Ele resolvia o problema da herança patrimonial e garantia que não houvesse mais entrelaçamentos entre bens eclesiásticos e bens temporais.

O celibato, portanto, nasce apenas para garantir a separação entre as necessidades materiais e as espirituais do padre?

Praticamente, sim. Depois, do século XVII ao século XIX, foi teorizada uma espiritualidade do celibato. Nasceu uma bela construção mística que se baseava na ideia de uma excelência do estado celibatário em relação ao estado conjugal.

Fazia-se referência às doutrinas do Novo Testamento, especialmente aos escritos do discípulo Paulo, que, ao contrário de Pedro, não era casado e, nas suas cartas, inseria recomendações com um selo fortemente anticonjugal.

O celibato era visto como uma forma de matrimônio com Jesus. O sacerdócio tornou-se uma função desempenhada “in persona Christi”. Não se casar era apenas a constatação da intensidade da doação, da prova de si mesmo, de abnegação em relação a Deus.

O princípio foi tão forte que deu início a uma cultura revolucionária do celibato: houve um celibato mazziniano e um bolchevique, baseados na ideia de que um homem que tem coisas importantes para fazer não tem tempo para formar uma família.

Por que hoje a Igreja deveria mudar de ideia?

Porque, sem padres, não se celebra a missa. Diante da crise das vocações, a Igreja deve fazer uma escolha. E não pode deixar de escolher a Eucaristia, que é reservada apenas aos padres. E se, para celebrar, for preciso estender o sacerdócio também para as pessoas casadas, a Igreja fará isso.

O Papa Francisco fará isso sem hesitação. Embora não se exclua que os problemas ligados à herança matrimonial também poderiam vir à tona: do sustento das viúvas à assistência aos filhos, o problema vai exigir a aplicação das devidas cautelas.

 

Virginia Della Sala

FONTE: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/540074-se-for-preciso-o-papa-francisco-vai-abrir-aos-padres-casados-sem-hesitar-entrevista-com-alberto-melloni

 

Entrevista de João Tavares a Gildean Farias, do Jornal “O Imparcial”

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Gildean Farias entrevista João Tavares sobre o Movimento dos Padres casados no Brasil. Para o Jornal “O Imparcial” que publicou um resumo, na edição de 22/02/2015

Minha e nossa opinião é que o melhor seria o celibato opcional, pois ele nada tem a ver com o sacerdócio: são coisas distintas e uma, apesar da teimosia de boa parte da hierarquia de Igreja que, por conveniência, fica inventando argumentos fracos e continuamente desmentidos pela história, de que o celibato é muito conveniente ao sacerdócio”.

1 – Qual o papel da Associação Rumos?

R/ O papel da Associação Rumos é ser o suporte jurídico do MFPC (Movimento das Famílias dos Padres Casados do Brasil). Mas o mais importante é o MFPC

2 – Quem pode participar? É vinculada a Igreja Católica?

R/ Pode participar:

  • o padre casado, esposa e filhos
  • seminaristas que fizeram Teologia
  • religiosos e religiosas que deixaram a Odem ou Congragação
  •  pessoas com idade mínima de 16 anos completos, que se identificam com as finalidades de Associação Rumos;

Não é vinculada juridicamente à estrutura da Igreja Católica. Somos, na grande maioria, católicos praticantes, mas independentes dos bispos e do papa, como instituição.

3 – No seu mais recente pronunciamento sobre o celibato, o papa Francisco citado como admitindo que a exigência havia “criado problemas” para a Igreja. A associação tem autorização do papa para funcionar? Como é a relação com ele e com os demais setores da Igreja Católica?

R/ Como respondi acima, como institução, somos independentes da estrutura da Igreja Católica. Nossa relação institucional com o papa e os bispos é de independência, mas de busca do diálogo possível: estamos sempre abertos ao diálogo construtivo com eles e já o vimos tentando há décadas. Várias tentativas foram feitas, inclusive várias cartas de grupos de vários países foram enviadas ao papa. Uma dessas cartas foi entregue em mãos, a João Paulo II, em Fortaleza, na sua primeira viagem ao Brasil, pelo cardeal Lorsheider, arcebispo local. Joõo Paulo II, de maneira muito malcriada, ao saber que era de Padres casados, rasgou-a e jogou no chão. É por essas e por outras que a esse “santo” eu não rezo.

 Infelizmente, eles não estão interessados neste diálogo. Salvo raras exceções. Somos uma pedra no sapato deles, um desafio contínuo às velhas estruturas de poder e de abuso de poder na Igreja. Francisco está se mostrando aberto e preocupado com o assunto, mas ainda tem muitas coisas mais urgentes a fazer e a resolver.

Os bispos, apesar da recomendação explícita do documento de Aparecida, no seu n° 200:

“Levando em consideração o número de presbíteros qua abandonaram o ministério, cada Igreja particular procure estabelecer com eles relações de fraternidade e mútua colaboração conforme as normas prescritas pela Igreja” ,

não têm feito nada ou quase nada para implementar essa recomendação. Ou porque discordam ou porque, provavelmente, não têm coragem de um diálogo aberto e franco com os padres casados, em geral pessoas sérias e bem preparadas, intelectual, espiritual e pastoralmente.

A grande maioria dos bispos do Brasil foi nomeada nos pontificados retrógrados de João Paulo II e Bento XVI, de uma Igreja que olhava mais para dentro de si do que para fora, para as periferias. E nós estamos na periferia. Para esses dois papas e para muitos bispos criados por eles, nossa existência como movimentos organizados, incomoda bastante.

4 – Qual sua opinião sobre a questão do celibato na Igreja Católica?

R/ Minha e nossa opinião é que o melhor seria o celibato opcional, pois ele nada tem a ver com o sacerdócio: são coisa distintas e uma, apesar da teimosia de boa parte da hieraquia de Igreja que, por conveniência, fica inventando argumentos fracos e continuamente desmentidos pela história, de que o celibato é muito conveniente ao sacerdócio. Num claro e teimoso desrespeito às leis da natureza humana e, a meu ver, do próprio Deus que fez a humandidade constituída de homens e mulheres.

Esses argumentos são muito mais econômico-políticos do que bíblicos, teológicos, sociológicos ou psicológicos. E têm muito a ver com a lógica constantiniana de PODER, instituído na Igreja a partir do séc. IV, quando Constantino fez dos bispos príncipes e chefes no Império Romano e os vestiu de púrpura, estolas, longas e vistosas vestes, mitras, báculos, etc.

Sabemos que o celibato, o não ter família, daria ao padre muito mais disponibilidade para o serviço do seu ministério pastoral. Na condição de que:

  • ele usasse todo o seu tempo para isso, o que, de fato, frequentemente não acontece;
  • e de que ele tivesse uma profunda espiritualidade e uma boa vivência com o povo cristão e com os colegas para, assim, se aguentar equilibradamente e dignamente na sua condição de celibatário: coisa nada fácil, pois é uma violência à natureza que nos fez homens e mulheres e age continuamente nessa lógica. 

Além disso, o celibato, o não ter esposa e filhos, deixa o padre muito mais exposto a falhas relativas à afetividade e a uma sexualidade integradora e madura, necessárias para o desabrochar completo e harmonioso da pessoa humana, macho ou fêmea que ela seja.

Daí a grande, vergonhosa e escandalosa onda de padres com amantes, homens ou mulheres, às vezes com filhos que não assumem, pedofilia, ganância, alcoolismo, vida de playboy irresponsável, etc. 

5 – A associação defende o fim do celibato ou apenas revisão da questão celibatária?

R/ Defendemos o celibato opcional, pelos motivos expostos acima. Mas exigimos tanto dos padres celibatários como dos que eventualmente casarem antes de serem ordenados, dignidade e doação séria ao seu ministério.

6 – Muitos padres e demais católicos chegam a falar em uma ‘escassez de padres’. Você concorda com isso? Se sim, qual seria o/os motivos que estariam fazendo com que tenha poucas vocações ao sacerdócio?

R/ Tenho a certeza que o Espírito Santo guia a sua Igreja na história, se bem que de maneira misteriosa. Essa aduzida escassez de padres pode ser relativizada. Qual seria, no Brasil, hoje, o número ideal de padres? Um para 1000 ou 2000 fieis, como até ha pouco na Europa? No Brasil hoje, temos um padre para cerca de 6000 católicos, ou um para cada 10.000 habitantes.

O “bom número” depende muito do tipo de trabalho essencial que o padre deve fazer na Igreja. E isso, eu garanto, ninguém sabe mais ao certo.

Muitas coisas que o padre faz, já podem e devem, hoje, ser feitas por leigos. Mas padres e bispos, educados ou adestrados para um certo tipo de pastoral autoritária, onde tudo depende só deles, muito dificilmente aceitam repartir o poder na Igreja: querem colaboradores totalmente submissos, sem poder de decisão na pastoral e na administração da Igreja. E isso não dá mais.

Para esse tipo de Igreja, acho que já temos padres demais. Mas, infelizmente, parece que nos seminários continuam a formar nesse modelo autocrático e monocrático de Igreja. Pior, para esse modelo de Igreja, parece que as vocações estão até aumentando. Enterraram o Concílio Vaticano II da Igreja-Serviço e quiseram voltar para Trento, para a Igreja-Poder.

O papa Francisco está querendo mudar, voltar à simplicidade do Evangelho, à Igreja-Serviço que vai às periferias, lá onde estão as ovelhas, mas muitos cardeais e bispos estão lhe fazendo dura e clara oposição, pois essa nova visão de Igreja os obrigaria a se desinstalarem, a irem para o meio do povo e a ficar “com cheiro de ovelhas”, com conclama Francisco.

Depois de 44 anos de volta à Igreja poder, de 1979 a 2013, não vai ser fácil

7 – No Brasil, estima-se que sete mil padres já abandonaram a batina para poder se casar. Qual, na sua opinião, seria a razão para que se chegasse a esse índic?

R/ Temos um estudo estatístico de 1990:

  •  40%, saiu por causa o celibato obrigatório
  • 14% por causa da estrutura obsoleta da hiararquia da Igreja
  •  8% por se sentirem isolados na hierarquia
  •  9% por crise existencial

8 – Existe algum índice do número de padres que deixaram a batina para casar no Maranhão?

R/ – Sim, somos cerca de 30 conhecidos e em certo contato e mais uns dez ou 15 que sabemos que existem mas que estão arredios.

9 – Você acha que o fim do celibato ou a revisão dessa questão, com a flexibilização, ajudaria a aumentar o número de padres na Igreja?

R/ Sim. Com toda a certeza.

10 – Há quanto tempo você deixou a batina para casar? Tem filhos?

R/ Deixei há 37 anos. Tenho duas filhas e uma neta.

11 – Como é a sua relação com sua família (pai, mãe, irmãos…), e com a comunidade em que vive?

R/ Muito boa. Quando deixei, sofreram um pouco, mas entenderam e receberam muito bem minha esposa e filhas. Com a comunidade, muito normal: a comunidade cristã está muito mais prepara do que a hierarquia para entender e aceitar a realidade dos padres que casam. Nunca escondo minha condição de padre casado. 

12 – O que mudou (se mudou) na sua relação com Deus e com o sagrado, após deixar a batina para se casar?

R/ Com Deus, nada mudou: a fé é a mesma. Talvez até cresceu. A vontade de trabalhar no Reino de Deus, naturalmente dentro de novas circunstâncias e limites, continua.

Com o sagrado, no sentido de partilha na paróquia, movimentos, mudou bastante. Também porque discordo bastante do tipo de pastoral dos “novos” padres. O que mais me entristece é a pouca preparação humana, intelectual, espiritual e pastoral dos padres e bispos: faltam objetivos claros, falta uma séria pastoral de conjunto, falta uma visão clara de Igreja, em que rumo caminhar. A Catequese, que deveria ser a base de uma inteligência e vivência da Fé, se resume a um ano ou pouco mais. Por isso continuamos a ser uma Igreja com cristãos profundamente ignorantes das bases bíblicas e racionais da nossa fé.

13 – Alguns casos de pedofilia e homossexualismo no clero vieram à tona nos últimos anos. Você acha que isso tem alguma relação com a questão da exigência do celibato?

R/ Sim. com certeza, por mais que a hierarquia tente negar. Mesmo sendo verdade que o homossexualismo existe em todas as classes sociais, o clero e religiosos e religiosas, presos, muitas vezes contra a sua escolha livre, mas porque foi o jeito, à condição necessária para se tornarem padre ou freira, também estão muito sujeitos a esses impulsos de satisfação sexual com os meios e as pessoas acessíveis.

E, tendo em conta a presença contínua ou frequente, junto com certa autoridade real ou, pelo menos moral, que exerciam/exercem sobre seus fieis e alunos, isso facilitava ou facilita muito os numerosos e gravíssimos abusos de que há mais de dez anos se vem falando e que foram um verdadeiro tsunami na Igreja Católica.

João Tavares

Do Setor de Cominucação do MFPC. Editor do Site: http://www.padrescasados.org/

Veja Mais

 

 

Celibato dos padres: as diversas cartas na mão de Bergoglio

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Quarta, 04 de março de 2015

A nota é de Giovanni Panettiere, publicada no blog Pacem in Terris, 02-03-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Da África do Sul ao Brasil, trata-se de teses levantadas na ótica de encontrar soluções credíveis para o antigo problema da crise vocacional e para a urgência de garantir a missa dominical em cada comunidade católica.

Na Amazônia, por exemplo, de acordo com dados oficiais, em 800 realidades eclesiais, contam-se apenas 27 presbíteros para 700 mil fiéis. A Eucaristia é celebrada duas ou três vezes por ano, enquanto a confissão é uma miragem.

O que fazer? Recentemente, no tradicional encontro quaresmal do papa com o clero romano, o reitor da igreja de San Giovanni Battista dei Genovesi, padre Giovanni Cereti, sugeriu a Bergoglio um caminho para reintegrar aqueles padres que, com a autorização e a bênção da Igreja, escolheram o caminho do matrimônio, participam da vida da Igreja, mas estão proibidos de celebrar a missa. No mundo, estima-se que eles sejam mais de 100 mil (fonte:ildialogo.org).

Inclinado há décadas em favor da readmissão à comunhão dos divorciados em segunda união – ajudou o cardealWalter Kasper na redação do controverso relatório introdutório ao consistório sobre a família –, Cereti propõe uma forma de indulgência para esses “ex-sacerdotes”. Ou, ao menos, para alguns deles.

“Na Igreja antiga – argumenta o teólogo – a indulgência era dada para remover a penitência depois da absolvição. Hoje, se ela fosse aplicada aos muitos padres casados que desejam voltar, eles poderiam ser readmitidos ao ministério, avaliando caso a caso. Seria uma solução que curaria a ferida da dolorosa falta de tantos coirmãos que escolheram a vida matrimonial, embora não querendo abandonar o sacerdócio.”

 

Foto Oficial MFPC - XX 2015

XX Encontro Nacional do Movimento das Famílias dos Padres casados do Brasil – MFPC – jan. 2015

A perspectiva de referência para Cereti remete ao Concílio Vaticano II, “que autorizou o diaconato mesmo para quem não é célibe, preparando assim o caminho para a constituição de um clero uxorado [casado] também na Igreja de rito latino”.

O discurso é diferente para o catolicismo oriental, em que os padres com família são uma realidade indiscutível.

Mais do que uma “ferida”, para o papa, a questão dos padres casados é “uma chaga”. Ao reitor da San Giovanni Battista, um Bergoglio particularmente atento e consciente do problema teria confidenciado que, “até agora, a Igreja não encontrou um caminho para curar essa chaga e, para ser sincero, não sei se encontrará”.

Palavras prudentes que, mesmo assim, não impedem que Francisco lance sinais de fumaça particularmente encorajadores para os novatores. Como na missa em Santa Marta no dia 10 de fevereiro passado, na qual também participaram cinco presbíteros casados. Uma novidade absoluta dentro dos muros leoninos.

O pontífice também deixa aberta a porta do debate sobre a ordenação dos chamados viri probati, homens casados de comprovada fé e retidão. “Sobre isso, proponham sugestões”, teria dito ele ao episcopado brasileiro. A ocasião foi a audiência concedida, em abril passado, a Dom Erwin Kräutler, bispo da diocese de Xingu, na Amazônia.

Recebido o convite, a Conferência dos Bispos verde-amarela imediatamente se pôs a trabalhar. Há meses, de fato, o cardeal Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo e grande apoiador de Bergoglio no conclave, está dialogando com a Congregação para o Clero justamente sobre os viri probati.

Brux jun 8

Encontro de Lideranças da Federação Europeia de Padres casados – Bruxelas – Jun 2014

Hummes, assim como o pontífice, não considera um dogma o celibato dos padres e, há algum tempo, quando era o número um do ministério dos clérigos (2006-2010), tentou abrir algumas frestas. Mas sem sucesso.

Não teve um melhor destino, em 2008, o documento conclusivo do 12º Encontro Nacional de Presbíteros brasileiros. No texto, fazia-se o pedido à Santa Sé para “possibilitar outras formas de ministério ordenado, que não seja o celibatário”.

Essa reivindicação, junto com outras relacionadas com os divorciados em segunda união e às nomeações episcopais, depois, fora retirada por decisão do Conselho Permanente do episcopado brasileiro. Melhor não criar tensões com o pontífice da época, Joseph Ratzinger, devem ter pensado os bispos do país sul-americano.

Durante o encontro com Kräutler, Francisco definiu como “interessante” a tese de um prelado alemão, por muito tempo bispo na África do Sul.

Dom Fritz Lobinger, este é o nome do pastor, 85 anos, de 1988 a 2004 à frente da diocese de Aliwal, defende a necessidade de ter na Igreja dois tipos de presbíteros.

Os atuais, célibes e assalariados pelas dioceses, e os “anciãos” que teriam uma profissão própria, uma família e não exerceriam o seu mandato de forma individual, mas em uma equipe de três ou mais. Estes últimos não seriam nem mesmo pagos pela Igreja e, dado central, seriam ordenados dentro das comunidades que iriam administrar. Um pouco como acontecia nos tempos dos Atos dos Apóstolos.

Viri probati, dupla tipologia de padres

Qualquer reforma que fosse aprovada, mesmo que apenas para o caso específico do Brasil – não nos esqueçamos de que Francisco defende uma descentralização do poder/serviço eclesial em benefício de uma maior autonomia das Conferências Episcopais nacionais (Evangelii gaudium, 34) –, ainda seria uma exceção à norma plurissecular – introduzida definitivamente pelo Concílio de Trento (1545-1563) – que proíbe, na Igreja de rito latino, a ordenação sacerdotal de homens casados.

Seria uma revolução por si só de resultados imprevisíveis, dada a firme oposição da galáxia tradicionalista, ainda particularmente representada no Sacro Colégio.

Em suma, além da reorganização da Cúria Romana, da transparência das finanças vaticanas, da luta sem descontos contra a pedofilia, da atualização da pastoral familiar, o papa também está lidando com outro canteiro de obras muito delicado.

O risco é de que os trabalhos não cheguem nunca ao fim. E que quem hoje celebra o clima mais propício ao debate na Igreja, até mesmo sobre um assunto espinhoso como o celibato eclesiástico, continue profundamente decepcionado.

Até porque a última reforma, em ordem de tempo, no campo do clero uxorado no Ocidente se deve a Bento XVI, à sua constituição apostólica Anglicanorum coetibus (2009), que permite que grupos de fiéis, leigos e pastores anglicanos, desejosos de se converterem ao catolicismo, entrem na Igreja de Roma, mantendo a sua identidade. Incluindo o matrimônio para os ministros de culto. Quem diria?

 

Giovanni Panettiere z

 Giovanni Panettiere

FONTE: http://ihu.unisinos.br/noticias/540436-celibato-dos-padres-as-diversas-cartas-na-mao-de-bergoglio

Encontro em março 2015 do MFPC de Brasília

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brasilia

 Foi muito concorrido e debatido o encontro mensal que o MFPC de Brasília realizou no domingo dia 8 de março na residência de Antônio Evangelista e Aíla. Sob a coordenação do dinâmico  casal, reuniram-se 29 pessoas. O exemplo de Brasília é convite a ser imitado em muitos outros Estados e cidades do Brasil. Mãos à obra!  Leiam abaixo os detalhes do encontro.    Giba 

Além da parte social e do estreitamento das amizades do grupo  brasiliense, foram aprofundados os seguintes pontos:

1) Detalhamento e avaliação do XX Encontro Nacional do MFPC realizado em Florianópolis, em janeiro passado. As pessoas que participaram do Encontro explanaram o que viram e sentiram, dando uma avaliação altamente positiva a respeito.

2) Comunicação sobre o XXI Encontro Nacional do MFPC, que se dará em Brasília, em janeiro de 2017. Decisão proposta e aprovada na Assembleia Ordinária havida no dia 17 de janeiro em Florianópolis.

3) Constituição do grupo organizador do XXI Encontro,  sob a coordenação de Antônio Evangelista. Já surgiram indicações de 3 a 4 locais sugestivos para sediar a realização do Encontro. Entre eles o Instituto Israel Pinheiro, maravilhoso ambiente, embora distante 27 km do aeroporto de Brasília.

Informações fornecidas por Antônio Evangelista

Elaboração realizada por Giba

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RESUMO  DO  ENCONTRO – enviado hoje por Antônio Evangelista

Com grande alegria e entusiasmo, nos reunimos no domingo passado, 08/03/2015, para a realização do nosso primeiro encontro mensal de 2015. Começamos o encontro, como de costume, com um bate papo descontraído e o almoço comunitário. Após a refeição fraterna inciamos nossa espiritualidade lendo o Evangelho proposto para a Missa do domingo. Após os comentários de praxe fizemos uma breve reflexão sobre o Encontro Nacional, realizado em Florianópolis, em janeiro deste ano, quando ouvimos bons elogios sobre a comissão organizadora e o desenvolvimento do evento. Participei ao grupo, o fato da inscrição da Associação Rumos na Secretaria de Estado de Fazenda do Distrito Federal e quais a providências que estamos tomando,  em nome da Diretoria Nacional, para atualizar e cancelar, uma vez que não há necessidade da inscrição estadual, visto que, a Associação não tem uma relação de prestação de serviços tributáveis.

Por último, constituímos uma comissão para iniciarmos os trabalhos do próximo Encontro Nacional, do Movimento das Famílias dos Padres Casados do Brasil, MFPC, em 2017.

Abraço carinhoso, Aíla e Antonio.

Sínodo: e se a solução fosse o Jubileu?

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Divorciados e padres que abandonaram o ministério têm algo em comum, algo que interpela profundamente o coração da Igreja e que, no Jubileu, no abraço misericordioso da própria Igreja, poderia finalmente encontrar resposta. Trata-se de situações que brotam, ambas, de uma experiência de fracasso humano.

A opinião é do padre e teólogo italiano Basilio Petrà, professor de teologia moral na Faculdade Teológica da Itália Central e de moral ortodoxa do Pontifício Instituto Oriental de Roma. O artigo foi publicado no blog L’Indice del Sinodo, 22-03-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Artigo de Basilio Petrà   –   30 de março de 2015

Eis o texto.

O Jubileu extraordinário da misericórdia, recém-anunciado pelo Papa Francisco, e que iniciará pouco depois do fim do Sínodo ordinário dos bispos, pode ser o tempo oportuno para fazer gestos preciosos de misericórdia em relação a dois grupos de fiéis que experimentam, de várias formas, um reconhecimento não pleno da sua pertença à Igreja.

Há o grupo dos fiéis que vivem e pretendem continuar vivendo uma nova condição conjugal depois do divórcio, sem que se possa demonstrar ou sustentar a nulidade do primeiro casamento; há também o grupo de fiéis que deixaram o exercício ativo do ministério presbiteral e que se casaram.

São grupos de fiéis diferentes entre si, naturalmente. No primeiro caso, a Igreja não os admite nem à absolvição nem à comunhão, porque considera que a sua situação contradiz a persistente validade do primeiro casamento; no segundo caso, a Igreja não lhes permite a retomada do exercício do ministério presbiteral, porque fracassaram de maneira pública e com grave perturbação do povo de Deus (assim se presume) à promessa de celibato, mas, se receberam a dispensa e se casaram religiosamente, não lhes coloca particulares dificuldades em relação à absolvição e à comunhão eucarística.

Grupos diferentes, situações diferentes, dificuldades diferentes.

No entanto, há algo que eles têm em comum, algo que interpela profundamente o coração da Igreja e que, no Jubileu, no abraço misericordioso da própria Igreja, poderia finalmente encontrar resposta. Trata-se de situações que brotam, ambas, de uma experiência de fracasso humano.

No primeiro caso, o fracasso diz respeito à realização das promessas matrimoniais. Os casais podem fracassar por muitos motivos e nem sempre claramente investigáveis, às vezes com culpas legíveis mais ou menos compartilháveis, outras vezes sem culpa clara.

Seja qual for o motivo, porém, eles podem fracassar: primeiro, a separação, depois, o divórcio e a nova união. Um fracasso que arrasta consigo um rastro de problemas, deixa feridas mais ou menos profundas, mas sempre sérias.

Por que, então, não abrir nas Igrejas locais, por ocasião do Jubileu, caminhos de plena reconciliação para aqueles que reconhecem com dor o mal gerado – voluntário e involuntariamente –, que tentam repará-lo segundo as suas possibilidades físicas e morais, e que estão seriamente empenhados em uma vida de fé na nova união como esposo e como progenitor?

Por que não reconhecer o caráter irreversivelmente passado de alguns vínculos nupciais interpessoais, oferecendo liturgicamente a possibilidade de um novo futuro nupcial na Igreja?

O número 52 dos Lineamenta do próximo Sínodo já oferece à discussão dos padres sinodais uma possibilidade semelhante; a Igreja Católica, além disso, sempre considerou que o vínculo nupcial interpessoal pode acabar e se pode dar um novo e verdadeiro vínculo nupcial com outras pessoas, como mostra a sua constante aceitação do matrimônio viuval.

No segundo caso, o fracasso concerne à fidelidade à promessa celibatária. Muitos podem ser os motivos de tal fracasso. Certamente, podem-se traçar linhas de culpabilidade pessoal em alguns casos; em outros, há mais os sinais das fraquezas, da frustração e do colapso emocional. Em outros ainda, a sensação sufocante de solidão e de abandono…

Várias são as causas do fracasso matrimonial, várias são também as causas do fracasso celibatário. Também neste último caso, feridas sem fim, infligidas e sofridas.

Porém, em muitos casos nos quais não surgiu a nulidade da ordenação, no exato momento em que a Igreja concedeu a dispensa da obrigação do celibato, ela não negou a correção do discernimento eclesial inicial nem a autenticidade da vocação divina ao ministério sacerdotal.

Essa autenticidade original realmente pode ter se perdido? O fracasso celibatário certamente não aniquilou aquilo que a Igreja formalmente reconheceu como presente: ao contrário, a própria Igreja admite que, em circunstâncias de necessidade, o ministério pode ser exercido em plenitude por quem está em tal condição.

Por que, então, não abrir percursos de nova acolhida e de readmissão ao exercício do ministério para aqueles presbíteros que, reconhecendo sincera e humildemente, a ferida infligida sobre a Igreja, peçam publicamente para voltar a desempenhar o ministério na Igreja, com o consentimento explícito da esposa religiosamente casada e dos filhos?

A impossibilidade de exercer o ministério por muitos anos já não é um significativo trecho de caminho penitencial para pessoas chamadas a ele e para ele preparadas? Claro, alguns poderiam fazer a pergunta: eles deverão se separar da esposa? Ou deverão se abster das relações sexuais segundo a antiga lex continentiae praticada em várias partes da Igreja?

Na realidade, são perguntas que já têm uma resposta na práxis atual da Igreja, que, na sua extensão católica, isto é, tanto no seu pulmão ocidental quanto no oriental, tem presbíteros casados aos quais não pede a observância da lex continentiae.

Tratar-se-ia apenas de aplicar as mesmas normas canônicas também aos presbíteros que voltaram ao ministério.

A Igreja, com gestos semelhantes de misericórdia, não trairia nenhuma verdade; mostraria apenas, mais uma vez, o grande coração do Pai, que corre ao encontro do filho marcado pela vida e pelo fracasso, coloca novamente o anel no dedo e lhe reabre a plenitude do futuro na sua casa.

 

Basilio Petrá

FONTE: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/541322-sinodo-e-se-a-solucao-fosse-o-jubileu-artigo-de-basilio-petra

 


HOMENS PROIBIDOS – O filme que pode mudar a História da Igreja

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 “Os sacerdotes estão se mobilizando no campo dos direitos humanos, abordando não apenas o Vaticano, mas também a Organização das Nações Unidas (ONU) para conseguir a liberdade e o direito de se casar.

Só o Papa, o revolucionário Papa, que pode abolir rapidamente a obrigação do celibato, devolvendo a estes homens os seus direitos naturais e humanos”.

Vídeo de apresentação:  UOMINI PROIBITI – intro from Forbidden Men – Film on Vimeo.

 COMO NASCE O PROJETO

 No mundo, existem mais de 120 mil sacerdotes que abandonam o sacerdócio para começar uma família ou que tem uma mulher secreta. É um sinal muito importante que a Igreja não pode mais ignorar.

Os sacerdotes estão se mobilizando no campo dos direitos humanos, abordando não apenas o Vaticano, mas também a Organização das Nações Unidas (ONU) para conseguir a liberdade e o direito de se casar.
Papa é Papa Francisco, o revolucionário Papa, que pode abolir muito rapidamente a obrigação do celibato devolvendo a estes homens os seus direitos naturais e humanos.
A regra do celibato clerical é uma lei promovida e estabelecida por homens, não por Deus.

 

DESCRIÇÃO DO PROJETO

DOCUMENTÁRIO  – HD 72’ – 52’ e DVD em quatro idiomas

Homens proibidos é o primeiro documentário sobre o período histórico atual da Igreja, documentando os passos e as escolhas decisivas

  • sobre o celibato,
  • sobre a família,
  • sobre os filhos ilegítimos de sacerdotes e suas mulheres secretas, obrigados a viver fora de qualquer lógica da escala social.

Uma história que nunca foi contada antes, seja pela perspectiva incomum dos personagens, que pela relevância do tema e a universalidade dos valores éticos que emergem.

Na Igreja Católica, o amor entre um padre e uma mulher está proibido, especialmente na Itália, lar do Vaticano, onde, entre o clero, aplica-se a regra da castidade. Nem sempre, porém, a promessa de celibato é respeitada e muitas vezes surgem amores proibidos e assuntos clandestinos.

Quando, por várias circunstâncias, são postos perante a alternativa: “ou a mulher, ou o sacerdócio”,

  • alguns sacerdotes escolhem o amor por suas parceiras, outorgando-lhes um papel fundamental em suas vidas;
  • outros não se sentem prontos para desistir da vocação e, continuando a exercer o ministério sacerdotal, estão dispostos a viver em segredo sua sexualidade e relacionamentos amorosos.

O número de sacerdotes que abandonam o sacerdócio ou que têm uma mulher secreta é muito alto, trata-se de mais de 120.000 casos relatados, apesar de que a Igreja prefere não revelar esta forma silenciosa de motim de seus funcionários.

Os números são o rastro de um fenômeno crescente, uma condição que afeta não só a Itália, mas todos os católicos europeus.

Este documentário nasceu do desejo de dar voz a àqueles que sempre foram forçados a viver em silêncio, penetrando no íntimo dos sentimentos humanos e tornando visualmente tangíveis os gestos individuais e situações emocionais daqueles que, ao contrário dos outros casais ,

  • estão contaminados pelo pecado,
  • crescem no sigilo
  • e afundam na culpa.
 O amor entre uma mulher e um sacerdote, de fato, põe em jogo uma série de problemas não só emocionais, mas também institucionais: até hoje, a Igreja não está disposta a rever a regra do celibato e abrir-se aos padres casados. Além disso, no rito católico romano é absolutamente proibido quebrar a promessa de castidade.

As histórias contadas são de amor, de vida, de um carinho único e inalcançável, sublime bem terreno, mas também de dor excruciante, esgotante insegurança,  vã inconclusividade.

 

 

 O FILME

  • Homens proibidos é um documentário que conta a história de alguns sacerdotes casados, que desistem dos seus privilégios sacerdotais, para começar uma família.
  • Homens proibidos é também a história de todas as mulheres que se apaixonam por um padre que ainda não está pronto para renunciar ao papel com o qual o eclesiástico inicia um caminho de vida de privação, silêncio, segredo.
  •  Homens proibidos entra nas histórias íntimas vividas na sombra do Vaticano, que sempre se opôs duramente a pedidos de abolição do celibato, até à chegada do Papa Francisco, que deu a entender uma possível abertura da Igreja sobre este assunto, embora ainda nada mudou desde o Concílio Vaticano II.

Precisamente por este motivo no mundo (Brasil, Canadá, Alemanha, França, Bélgica, Espanha, Áustria, Grã-Bretanha) nasceram associações de sacerdotes casados, mulheres de sacerdotes e, recentemente, também dos filhos dos sacerdotes, que estão se mobilizando apelando-se aos direitos humanos, não só ao Vaticano, mas também à Organização das Nações Unidas (ONU) para conseguir a liberdade e o direito de se casar, formar uma família, ter filhos e de “trabalhar” ao exercer seu papel de padres, bispos e freiras.

 

O filme não é construído apenas seguindo as fases da cultura dominante, mas também dando voz a essas subculturas que normalmente não têm nenhuma maneira de escrever a história, apesar de serem “atores” importantes da sociedade:

  • as mulheres secretas,
  • os padres casados,
  • os filhos não reconhecidos

 oferecem um valor humano e tangível aos ensinamentos doutrinários que desde o Vaticano entram inexoravelmente nas casas de cada um de nós.

 

 

OS PERSONAGENS PRINCIPAIS

ANNA é uma menina que foi abandonada pelo sacerdote com quem ela tinha acabado de ir conviver, junto com seu filho. Depois de apenas alguns meses, ele começou a ter dúvidas e tentou de todas as maneiras voltar a ser um sacerdote. Então, para livrar-se aos olhos da Igreja, denuncia a mulher por tê-lo manipulado e seduzido. Anna foi absolvida, mas agora está à espera da custódia de sua filha. De fato, ainda não está claro se ele quer ser Pai ou Padre.

FAUSTO, entrou para o seminário aos 11 anos, cresceu com uma educação católica rigorosa em relação à castidade. Agora, com 70 anos de idade, conta sua vida no convento onde lhes ensinaram a negar sua sexualidade e a demonizar a mulher e os sentimentos, até que, partiu para o Brasil como missionário, e se apaixonou por LUIZA (ex-freira e sua futura esposa).

FEDERICO e FIDELIA se casaram recentemente. Quando eles se conheceram, ele tinha pouco mais de trinta anos e ela tinha acabado de chegar à Itália, da Nigéria. Os pais de Federico não aceitaram sua decisão de deixar a Igreja: esta atitude ajudou a complicar a situação. Além disso, uma vez destituído, para ele foi complicado voltar a ser aceito pela comunidade  onde nasceu e se criou. Foi Fausto,  o ex-frade de 70 anos (casado com Luiza), quem o ajudou e encorajou e quem se interessou pela história deles. Federico e Fidelia tem três filhos, a maior LUCY, de apenas 12 anos, conta como è ser filha de um sacerdote.

 

UOMINI PROIBITI – intro from Forbidden Men – Film on Vimeo.

 É um filme representativo, um filme necessário que nós queremos mostrar ao Papa, porque estamos convencidos de que, depois de vê-lo, sua profunda e delicada sensibilidade vai empurrá-lo, em um tempo muito curto, a abolir a regra do celibato clerical devolvendo a estes “homens proibidos” os seus direitos naturais e humanos.

Este filme nasceu do desejo de dar voz àqueles que são forçados a permanecer nas sombras e para realiza-lo utilizamos todos os meios à nossa disposição.

POR QUE AGORA?

É importante e necessário realizar Homens Proibidos hoje, porque este é um período crucial da grande mudança dentro da Igreja Católica. A proclamação do papa Francisco e sua linha de renovação sugerem uma maior abertura e vontade de ir além dos limites que pertencem ao passado, até mesmo com respeito ao celibato.
O temor de que seu relatório possa ser descoberto, e, em seguida, ser combatido, empurra muitos sacerdotes a permanecer anônimos.
Homens Proibidos apoia a abolição do celibato em nome da dignidade e liberdade de todos. No filme há mulheres e sacerdotes dispostos a se exporem e que merecem todo o nosso apoio.

 AS RECOMPENSAS

Para aqueles que não querem escrever seu nome nas manchetes ou em canais sociais, você pode especificar um nome fictício ou um nome genérico, como: HOMEN PROIBIDO APAIXONADO ou MULHER PROIBIDA APAIXONADA.

 

SOBRE A AUTORA DO PROJETO

 

ANGELITA FIORE, diretora

Angelita Fiore é  PhD em Estudos sobre Teatro e Cinema no Departamento de Música e Artes da Interpretação,  pela Universidade de Bolonha (DAMS). Desde 2005 colabora com várias Companhias Italianas de Produção, como cineasta freelancer . Ela trabalha como crítica de cinema e seus ensaios têm sido publicados em muitos livros e revistas. Há muitos anos ela vem colaborando com vários Festivais do Documentário Italiano como Diretora Artística, Selacionadora de filmes e membro de Júris. O Ponto de vista subalterno tem sido o elemento-chave de seu trabalho com que ela tem conseguido dar voz àqueles que, em geral, não têm o poder de escrever a história. Alguns de seus trabalhos: Vida na Arte, Arte na Vida, Mutatis Mutandis, O Nó de Sylvie,  Nem 1 Razão

FONTES: 
 dificultando-lhes, por exemplo, a busca de trabalho.
__________________

Comentário do Editor:

Angelita Fiore, através de Fausto, um dos personagens do filme e que mora no Brasil,  entrou em contato com o Movimento das Famílias dos Padres casados do Brasil – MFPC, solicitando colaboração.

Achamos o Projeto HOMENS PROIBIDOS válido e muito oportuno e estamos dispostos a colaborar, no que pudermos.

Se bem que a nossa visão latino-americana, sobretudo brasileira, de padres casados, é bastante mais serena e independente das amarras romanas: são visões complementares, não difíceis de entender.

Aqui vivemos numa Igreja bem mais aberta e voltada para o essencial, e vemos a saída do ministério de maneira bastante mais positiva. Sem medo das reações do Povo católico ou de perseguição da Hierarquia.

Apesar de também termos notícias de perseguição de bispos aos padres casados em alguns países latino-americanos,  dificultando-lhes, por exemplo, a busca de trabalho.

Para já, estamos combinando que vamos colaborar traduzindo para a língua portuguesa as legendas, tão logo nos chegue o texto completo definitivo.

João Tavares

Editor e Delegado de Relações internacionais

 

O celibato opcional na Igreja Católica Maronita do Líbano

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No Líbano, não há falta de vocações para o sacerdócio nem para a vida religiosa, e os responsáveis selecionam com muita atenção os candidatos.
Foto: seminaristas maronitas no Maronite Patriarchal Seminary, no Líbano
“É claro, dizia-nos o reitor, que a opção dos sacerdotes com família tem outras exigências, não é fácil cuidar de uma família e da paróquia ao mesmo tempo, mas é uma questão de vocação. Quando o Senhor chama, Ele também dá as forças necessárias para responder.”
 O sacerdote amigo que me foi buscar ao aeroporto de Beirute disse-me: «Ainda bem que o avião chegou a horas, ainda podemos participar na missa solene desta tarde na catedral de Jbeil.» Confessei a minha ignorância: «Que solenidade é hoje?»

Enquanto o carro percorria a estrada que ladeia a costa do Mediterrâneo em direcção ao norte do Líbano, o padre Karam explicou-se que se tratava da festa anual de São Maroun, o patriarca fundador da Igreja Católica do Líbano que, por isso mesmo se chama Maronita.

Chegámos apenas a tempo de cumprimentar o bispo e alguns membros do clero da diocese. Sobre a minha alba branca coloquei a estola própria do rito maronita. A solene eucaristia terminou com uma cerimónia em que todos, em procissão, vieram beijar com grande reverência o sagrado ícone de São Maroun.

Depois da Missa, participámos ainda num jantar de festa, num restaurante à beira-mar. Éramos três, os padres latinos (eu vindo de Roma, e dois outros colegas, um da Coreia do Sul e outro de Timor-Leste). Tiveram a gentileza de nos pôr numa mesa junto com outros três sacerdotes maronitas, dois deles acompanhados pelas respectivas esposas. A esposa do terceiro tinha ficado em casa a cuidar dos filhos ainda pequenos.
Foi muito interessante a maneira como partilharam connosco as alegrias e as dificuldades das duas maneiras de viver o sacerdócio ordenado na Igreja Maronita: os sacerdotes que optaram por formar família, e aqueles que escolheram o celibato.

Três dias depois, aceitámos o convite do reitor do Seminário Maior de Beirute e fomos encontrar a comunidade dos seminaristas com os seus formadores. Que alegria, poder encontrar aqueles mais de cem seminaristas de Filosofia e Teologia. No Líbano, não há falta de vocações para o sacerdócio nem para a vida religiosa, e os responsáveis seleccionam com muita atenção os candidatos.

Sentados no seu escritório, o reitor explicou-nos que a quase totalidade dos candidatos ali presentes concluíram os estudos universitários antes de pedir para entrar no seminário. Aqueles, poucos, que já são casados deixam a sua família de segunda a sexta e vivem no seminário para seguirem a formação sacerdotal.

Entre os seminaristas solteiros, cerca de metade escolhem o celibato e, depois de terminar os anos de Teologia, deixam o seminário e inserem-se na vida pastoral da própria diocese para se prepararem para a ordenação diaconal e sacerdotal. Aqueles que se sentem chamados ao matrimónio regressam à própria diocese e constituem família.

A ordenação de diácono e de sacerdote normalmente é possível cerca de cinco anos depois do matrimónio: é preciso que a família esteja estável de todos os pontos vista, que os primeiros filhos já estejam a crescer e que pelo menos o pai tenha emprego seguro para sustentar a família.

É claro, dizia-nos o reitor, que a opção dos sacerdotes com família tem outras exigências, não é fácil cuidar de uma família e da paróquia ao mesmo tempo, mas é uma questão de vocação. Quando o Senhor chama, Ele também dá as forças necessárias para responder.

 

 FERNANDO DOMINGUES,

Missionário Comboniano,

na revista Além-Mar, de abril 2015

 

 

LEIA MAIS:

 

 

DARCY CORAZZA (1931-2015) – DESCANSA EM PAZ!

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COMUNICADO AO PADRES CASADOS

Darci Corazzaaaaa

Caro João,

com pesar comunico que esta noite, na casa da filha, na Praia Grande, faleceu nosso amigo Pe. Darcy Corazza que,apesar de cego e doente, acompanhado pelo generoso casal Francisco e a saudosa Rosa, veio até nós brindar com sua palestra e nos lembrar que, como Cristo, fomos promovidos ao estado laical. O ano passado juntamente com o Pe.Gisberto, o bispo Dom Celso Queiroz e outros padres celibatários ou não, tivemos também em Brodowski para reunião informal fraternal, como anualmente acontece. Peço-lhe a gentileza  de comunicar a notícia  aos irmãos e especialmente ao Almir, cujo endereço não está aparecendo em meu PC neste momento.

 Muito agradeço com fraternais saudações.

Mario Palumbo

 

De Praia Grande, no litoral paulista, recebemos hoje a triste notícia do falecimento de nosso querido amigo e irmão de caminhada espiritual Darcy Corazza, que em fevereiro deste ano comemorou 84 venturosos anos de vida, muitos deles dedicados como sacerdote, incluindo o magistério na PUC-SP e assessoria ao cardeal Agnelo Rossi, depois como marido de D’Ávila e pai de Silvana e Gian Carlo, psicólogo clínico e ministro da Igreja, na paróquia do bairro Saúde, em São Paulo, tendo sido, também, um dos primeiros coordenadores da fraternidade secular do Irmão Carlos de Foucauld no Brasil, por indicação do Pe René Voillaume, e ainda membro ativo do movimento dos padres casados.

Corazza...1

Darcy Corazza, com família e amigos

 

Após perder a esposa e ao mesmo tempo perder também a visão, Corazza passou a morar no litoral com a filha Silvana, genro e duas netinhas, que lhe deram cuidados e muito amor, até que nesses últimos meses sua saúde foi se debilitando, principalmente por problemas cardíacos, vindo a falecer nesta madrugada em casa.

Homem de fé desde o berço em Salto, no interior paulista, Corazza deixa um grande legado aos seus familiares e amigos, quem desde a primeira hora, ainda seminarista diocesano, despertou para as mudanças que se faziam necessárias na Igreja antes do Concílio Vaticano II, acreditando e tomando como referência na vivência simples e atuação pastoral a opção pelos pobres e excluídos, o que foi reforçado quando conheceu a espiritualidade de Nazaré do Irmão Carlos de Foucauld e a oportunidade que teve de passar um tempo na França com os religiosos e leigos, em experiência de deserto.

Corazza teve também engajamento político, notadamente contra o regime militar instalado em 1964, quando lecionava na PUC, o que lhe custou perseguição, vinda de próprias autoridades eclesiásticas, que chegaram a denunciá-lo como “comunista”, fato desencadeador de sofrimento e depois do seu afastamento das funções de presbítero.

Corazza dando palestraDarcy Corazza dando palestra

Nenhum sofrimento, porém, até o fim dos seus dias, tirou-lhe a fé em Jesus de Nazaré, a paixão pelo Reino de Deus e a esperança da promessa, como também nenhum ressentimento ou mágoa guardou em seu coração bom e misericordioso.

Com esse espírito, os amigos – como a saudosa Rosa e marido Francisco Resende, Nena e Fábio França, Vânia e Moisés Villaça, Roberto e Gislene, Carlos e Lenita, Maurinho e esposa, Escada e Naná, Irz Francisco Pacheco, entre outros — guardam também dele as lembranças do seu acolhimento caloroso, colocando sua casa à disposição para encontros fraternos e alegres, regados a tira-gostos e um indispensável Lambrusco, que ele tanto apreciava.

O corpo de Corazza deve ser trasladado de Praia Grande para São Paulo e será velado e sepultado no Cemitério de São Pedro, defronte ao Crematório da Vila Alpina, na Zona Leste de São Paulo, a partir das 18.00 horas.

Descansa em Deus, caro amigo e irmão, e obrigado por sua presença e exemplos de vida e fé que deixou a todos que o conhecera!

(Aos familiares, nossa presença solidária e amiga, nesta hora dolorosa, não obstante nossa sólida fé na Ressurreição – NR, em nome da Diretoria do MFPC.)

 

Fonte: http://www.oraetlabora.com.br/novosite/page.php?name=abertura

NOTA DE FALECIMENTO: José Lisboa Moreira de Oliveira

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Mesmo com quase três meses de atraso, não podemos deixar de comunicar a notícia do falecimento de nosso colega,  José Lisboa Moreira  de Oliveira.  Acabo de receber a notícia através do colega Valenty Cejnog, de Juiz de Fora, MG, com um rápido comentário:

“Penso eu que com a morte dele perdemos um grande intelectual e professor. E eu diria – um verdadeiro profeta de Deus no mundo de hoje. Os seus artigos e textos expressavam muito bem o que sentem muitos de nós, padres casados.”

 

 

Conheci José Lisboa por seus artigos publicados em ADITAL, de Fortaleza. Um bom número de artigos dele, mais de 20, foram também publicados neste Site. Sempre apreciei nele a boa visão teológica da Igreja e do ministério sacerdotal como serviço ao Povo de Deus, baseados na Teologia do Concílio Vaticano II. Bem como a capacidade de sólida análise do momento atual, na Igreja e na política.

Apreciei muito, também, sua grande preocupação com as vocações sacerdotais e a formação dada nos seminários. E pude constatar a sua decepção com tantos padres novos trilhando caminhos estranhos, nada conciliares, nestes tempos do papa Francisco.

Estes artigos são acessíveis digitando no retângulo de busca deste Site: José Lisboa Moreira

Entrei em contato com ele, via e-mail, em meados do ano passado, para saber notícias dele e de sua família.

A resposta dele:

“Caro João Tavares,

Recebi sua mensagem abaixo. No momento estou com um problema de saúde (Linfoma) que inspira cuidados e deverei passar por um longo tratamento.

Por razões pessoais não me filiei à associação dos padres casados e nem participo das reuniões dos mesmos. São razões meramente pessoais que só poderiam ser explicadas pessoalmente. 

Porém, nunca tive e não tenho preconceito contra os colegas presbíteros que optaram por deixar o exercício do ministério e assumir a vocação matrimonial que, lamentavelmente, a Igreja Roma continua negando a seus padres.

Quando estava no Setor Vocações e Ministérios da CNBB acompanhava (e apoiava implicitamente) os padres casados, já que éramos proibidos de manter contatos públicos com os mesmos e com a sua associação. (destaques do Editor)

Pode continuar publicando meus artigos e, depois que eu melhorar, se puder ser mais útil à associação e a Rumos, terei todo o prazer.

Segue meu “currículo” (ficha cadastral):

 

Ana Márcia Guilhermina de Jesus

Não temos filhos

Caixa Postal 47

Borda da Mata – MG

CEP: 37564-970

Fone: (35) 9156-4489 – TIM

E-mail: jlisboa56@gmail.com

Que o Pai o tenha em bom lugar. À viúva Ana Márcia e demais familiares, a nossa solidariedade fraterna.  Abaixo, a nota da CNBB sobre o falecimento

João Tavares 

Editor

 

Morre, aos 58 anos, o teólogo José Lisboa

SEGUNDA, 02 MARÇO 2015 14:41

CNBB

Faleceu no domingo, 1º de março, o teólogo e escritor, José Lisboa Moreira de Oliveira. Natural de Araci (BA), nasceu em 14 de agosto de 1956. Atualmente, dedicava-se aos estudos e ao ensino de Antropologia da Religião e Ética.

Em nota, o provincial dos Vocacionistas do Brasil, padre José Ionilton Lisboa de Oliveira, expressou pesar pela morte do teólogo e comunica que o sepultamento está previsto para esta quarta-feira, 03, em Araci (BA). O horário ainda não foi definido. A CNBB também expressa suas condolências pelo falecimento do escritor José Lisboa que, durante sua jornada, contribuiu com as atividades de evangelização da Igreja no Brasil.

Vida e missão

Em sua trajetória, professor José Lisboa publicou mais de 15 livros de animação vocacional, entre outros diversos títulos na área de teologia e filosofia. Era mestre e doutor em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma.

Enquanto religioso vocacionista até 2007, foi assessor do antigo Setor Vocações e Ministérios Ordenados da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Também exerceu a função de gestor do Centro de Reflexão sobre Ética e Antropologia da Religião (CREAR) da Universidade Católica de Brasília (UCB).

http://www.cnbb.org.br/imprensa-1/15968-morre-aos-58-anos-o-teologo-jose-lisboa

 

 

Memórias do Concílio Vaticano II: a proposta de bispos brasileiros para a falta de padres

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  ” .. O arcebispo de Goiânia, Dom Fernando Gomes, assinalou as graves deficiências do esquema PRESBITERORUM ORDINIS: “O esquema, mesmo na sua nova redação, causou a nós e a muitos outros Padres Conciliares, uma grande desilusão. Julgamos que o texto das proposições constitui uma injúria aos nossos diletíssimos sacerdotes que trabalham conosco na vinha do Senhor. Se o Concílio Vaticano II disse coisas tão belas e sublimes quando tratou dos Bispos e dos Leigos, por que agora, ao tratar dos sacerdotes diz tão pouco e de modo tão imperfeito?”

 As questões do subdesenvolvimento, da miséria, da desnutrição e do analfabetismo, junto com o diálogo norte-sul, preocupavam o episcopado do Brasil, estando por isto presentes nos debates e reuniões durante o Concílio (eram 175 os bispos brasileiros presentes na aula conciliar). Outra área que causava grande preocupação aos prelados era a do atendimento pastoral insuficiente ou inexistente em amplas áreas do país, por escassez do clero.

A discussão do esquema Presbyterorum Ordinis, na terceira sessão do Concílio, provocou uma insatisfação geral nos presentes pelo seu tom. Em nome de 112 bispos brasileiros e de outras nações, o arcebispo de Goiânia, Dom Fernando Gomes, assinalou as graves deficiências do esquema:

“O esquema, mesmo na sua nova redação, causou a nós e a muitos outros Padres Conciliares, uma grande desilusão. Julgamos que o texto das proposições constitui uma injúria aos nossos diletíssimos sacerdotes que trabalham conosco na vinha do Senhor. Se o Concílio Vaticano II disse coisas tão belas e sublimes quando tratou dos Bispos e dos Leigos, por que agora, ao tratar dos sacerdotes diz tão pouco e de modo tão imperfeito?”

A concluir, Dom Fernando Gomes pediu que o esquema fosse rejeitado e elaborado um novo, a ser discutido e votado na próxima sessão do Concílio.

Neste meio tempo, a discussão acerca dos ministério que tocara o tema do restabelecimento do diaconato permanente, evoluiu, na quarta sessão, no sentido de se discutir a possível ordenação de homens casados, por um lado, e o acesso de diáconos casados ao presbiterato, por outro. Ambas as questões tocavam a vinculação entre ministério presbiteral e celibato na tradição latina.

 O Bispo de Lins, Dom Pedro Paulo Koop, preparou um texto para sua intervenção onde pedia a ordenação de homens casados, de modo a cumprir o mandato evangélico da evangelização e do pastoreio das comunidades, privadas longamente da presença sacerdotal e da celebração eucarística por escassez de padres.

Após preparar seu pronunciamento e entregá-lo, como era de praxe, ao secretariado do Concílio, Dom Pedro distribuiu o documento a muitos outros padres conciliares em busca de apoio ao texto.

Foi, no entanto, advertido para que não se pronunciasse oralmente na Sala Conciliar. O texto original em latim, acabou sendo publicado em francês no jornal Le Monde em 12 de outubro de 1965.

A publicação acabou coincidindo com a carta de Paulo VI ao Cardeal Tisserant, retirando a discussão do tema da agenda conciliar, deixando em situação difícil o Bispo de Lins, ainda novo no Episcopado, que foi atacado por alguns colegas e acusado de desonrar o Episcopado brasileiro, colocando- contra o Santo Padre.

Anos mais tarde, sua posição tornou-se majoritária no seio da Conferência Episcopal Brasileira.

Além de Dom Pedro Koop, também o jovem bispo Francisco Austregésilo de Mesquita, da Diocese de Afogados da Ingazeira, em Pernambuco, depositou documento semelhante na Secretaria do Concílio, com data de 10 de outubro de 1965.

Enquanto Dom Pedro pedia a ordenação de “viri probati”, ele solicitava a de diáconos casados.

Seu argumento não partia, inicialmente, da necessidade pastoral das comunidades e fiéis, privados de sacramentos pela falta de padres, mas insistia na distinção entre vocação para o sacerdócio e vocação para o celibato, podendo alguns assumir o carisma do celibato, sem necessariamente se sentirem chamados ao presbiterato.

Inversamente, havia zelosos presbíteros que não se sentiam chamados ao celibato. Postulava, portanto, a liberdade de escolha, sem medo de perder ministros por esta razão. Mas num segundo momento, passou a insistir igualmente nas necessidades pastorais de inúmeras regiões do mundo, citando o exemplo da própria Diocese”.

FONTE: Padres Conciliares Brasileiros no Vaticano II: Participação e Prosopografia. 1959-1965. José Oscar Beozzo. O texto foi publicado no portal da Rádio Vaticano, 27-05-2015.

LEIA MAIS:

Paulo VI vetou pedido da CNBB de rever celibato.

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 Localizadas no Arquivo Secreto do Vaticano propostas de bispos brasileiros ao Concílio Vaticano II, em 1965, que foram censuradas: ordenação de homens casados e controle de natalidade.

O Arquivo Secreto do Vaticano mantém, em duas pastas guardadas a sete chaves, cópias das propostas feitas por bispos brasileiros sobre o celibato dos padres e o controle de natalidade, na última sessão do Concílio Ecumênico Vaticano II, em 1965. Os textos não foram transcritos nas atas da reunião, como seria de praxe, porque o papa Paulo VI proibiu a discussão dos temas. Acreditava-se que os documentos tivessem sumido, conforme observou o teólogo e historiador padre José Oscar Beozzo no livro A Igreja do Brasil no Concílio Vaticano II (Editora Paulinas, 2005).

 

A reportagem é de José Maria Mayrink e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 09-01-2011.

Domingo, 09 de janeiro de 2011

“Estranhamente, as intervenções depositadas no Secretariado do Concílio não deixaram nenhum traço nas atas conciliares, desaparecendo do registro histórico, como se nunca tivessem existido”, escreveu Beozzo, depois de relatar a iniciativa de d. Pedro Paulo Koop, bispo de Lins (SP), e de d. Francisco Austregésilo de Mesquita, bispo de Afogados da Ingazeira (PE), de propor a ordenação sacerdotal de homens casados para suprir a falta de padres no Brasil. Os dois bispos tinham o aval da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e de boa parte dos 243 participantes brasileiros do Concílio.

Foi o próprio padre Beozzo quem descobriu, em investigações posteriores, que os textos das propostas estão preservados no Arquivo Secreto. A proposta sobre a ordenação de homens casados está conservada na pasta de número 529, intitulada Comissione di Coordinamento – De coelibatu ecclesiastico (Comissão de Coordenação – Sobre o celibato eclesiástico), 1965-1966, fascículos 1-6. A intervenção sobre controle de natalidade está arquivada na pasta de número 528, fascículos 1-4, com o título Comissione di Coordinamento – De ecclesia in mundo huius temporis – De matrimonio (Comissão de Coordenação – A Igreja no mundo do tempo atual – Sobre o matrimônio).

O texto do bispo de Lins que pedia a ordenação de homens casados (que não é o casamento de padres celibatários) vazou para a imprensa e, ao ser publicado pelo jornal Le Monde, em 12 de outubro de 1965, provocou um alvoroço no Vaticano. D. Pedro Paulo Koop entregou o original de sua intervenção em latim à Secretaria do Concílio e algumas cópias a outros participantes da reunião, em busca de apoio. Surpreendeu-se ao ver o documento ser publicado em francês, em Paris. NoColégio Pio Brasileiro, ponto de apoio dos bispos em Roma, d. Pedro Paulo foi acusado, numa reunião da CNBB, de envergonhar o episcopado do Brasil.

D. Francisco Austregésilo de Mesquita, que também propunha a ordenação de homens casados e saiu em defesa de d.Pedro Paulo, confessou mais tarde, em entrevista a padre Beozzo, ter ficado profundamente decepcionado com o veto dePaulo VI. “Até hoje, não consigo engolir que o papa impediu-me de tratar três assuntos: celibato, paternidade responsável (pílula) e divórcio”, declarou o bispo.

Paulo VI interveio na agenda ao saber que alguns padres conciliares (bispos participantes do Vaticano II) tinham a intenção de tratar do celibato eclesiástico. Dando sua opinião pessoal, logo interpretada como uma ordem, o papa advertiu que não seria oportuno debater publicamente o tema. Os bispos foram convidados a entregar suas intervenções por escrito.

Pressão

Mesmo engavetado, o tema do celibato continuou em discussão. No Sínodo de 1971 (reunião de bispos com o papa em Roma), o então secretário da CNBB, d. Aloísio Lorscheider, voltou a levantar a questão, depois de a assembleia-geral do episcopado em 1969 ter aprovado, por dois terços dos votos, que o pedido de ordenação de homens casados fosse encaminhado à Santa Sé. A Secretaria de Estado fez pressão sobre os delegados brasileiros, insistindo para que não tocassem no tema, porque o papa ficaria muito triste. D. Aloísio levou a questão adiante, mas Roma não cedeu.

“Isso não impediu que, no Sínodo dos Bispos de 1990, d. Valfredo Tepe (de Ilhéus-Bahia) voltasse a falar em nome da conferência episcopal do Brasil, solicitando a ordenação de homens casados”, escreveu o padre Beozzo. Entre outros argumentos, d. Tepe lembrou que no Brasil há paróquias de 50 mil e até de 100 mil habitantes, o que exige de muitos padres celebrar cinco ou mais missas aos domingos, para satisfazer a comunidade de sua área. “Trabalham sob estresse e se sentem frustrados porque não conseguem, de forma adequada, assistir pastoralmente as próprias comunidades”, afirmou o bispo. D. Aloísio Lorscheider, que havia sido nomeado cardeal em 1976, reforçou a proposta, ao defender a ordenação de homens casados. O Vaticano manteve inalterado o celibato.

Apesar de os papas João Paulo II e Bento XVI terem mantido o veto de Paulo VI à discussão do tema, a ordenação de homens casados continua em pauta. Alguns bispos defendem a proposta abertamente. “Precisamos ter a coragem de ordenar homens casados para atender as comunidades abandonadas”, adverte d. Angélico Sândalo Bernardino, bispo emérito de Blumenau (SC), que foi membro da comissão responsável pelos padres na CNBB. “O carisma do celibato continua sendo uma riqueza evangélica na Igreja, mas chegou a hora, diante da realidade de inúmeras comunidades carentes de eucaristia, de ordenarmos homens casados de intensa vivência comunitária e matrimonial”, acrescenta.

O 12.º Nacional de Presbíteros, reunido em Itaici, no município paulista de Indaiatuba, em 2008, propôs que se pedisse ao Vaticano a ordenação de homens casados e a readmissão de ex-padres casados como alternativas para o celibato, mas sem sucesso. A proposta foi cortada na versão final do documento enviado a Roma.

 

“Deus queria que eu fosse um padre casado”, diz ex-sacerdote católico

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Arquivo Pessoal
O ex-padre católico Alberto Cutié com a mulher, Ruhama, e os filhos, Albert e Camila
 “Sou um padre melhor como um homem casado”, diz Alberto Cutié. Apesar de não questionar o desempenho dos sacerdotes casados, dom Antonio defende a disponibilidade que o celibato promove e não acha que a sexualidade seja um problema para os padres. “É mais difícil viver a sexualidade no casamento do que no celibato”, diz.

 

Na Igreja Católica Apostólica Romana, o celibato é condição para o sacerdócio. Isso significa que os padres devem permanecer solteiros e castos. Porém, os sacerdotes nem sempre conseguem sublimar seus desejos, caso de Alberto Cutié, 45, de Miami, nos Estados Unidos. Depois de ter sido pego trocando carícias com uma mulher em uma praia quando ainda era um padre católico, ele deixou o sacerdócio para se casar.

Segundo Cutié, o amor por sua mulher, Ruhama, aconteceu à primeira vista, quando se conheceram na paróquia, porém o casal resistiu por muitos anos até ceder ao sentimento. Ele, que agora atua como padre anglicano episcopal, vertente que admite o casamento, disse que abandonou o antigo posto por muitas razões ideológicas, incluindo o celibato. “Soube que Deus queria que eu fosse um padre casado”, diz o religioso, que contou sua história no livro “Dilemma: A Priest´s Strugle With Faith and Love” (“Dilema: A Luta de um Padre com a Fé e o Amor”), ainda sem tradução em português.

João Tavares, 74, de São Luís, que foi padre por 11 anos, avalia que é muito difícil manter o voto de castidade. “É uma violência contra a natureza humana, que Deus fez sexuada, e leva a pessoa, por mais boa vontade que tenha, a viver em um eterno desequilíbrio”, afirma. Depois de deixar a função sacerdotal, Tavares se casou, teve duas filhas e hoje integra a diretoria do Movimento Nacional das Famílias dos Padres Casados.

Para Tavares, sacerdotes sérios e bem formados aprendem a lidar com a sexualidade de forma responsável, mas a tarefa nunca é fácil. “O problema sempre vai existir, pois os padres não são castrados.”

Celibato e vocação

Recentemente, o papa Francisco declarou que o celibato não é um dogma para a Igreja Católica, ou seja, não consiste em um ponto indiscutível –tanto que os ortodoxos aceitam o casamento de seus sacerdotes–, mas que aprecia essa “regra de vida”.

Saiba se você se deixa levar pelos preconceitos, respondendo ao teste elaborado com a consultoria de Viviane Sampaio, especialista em terapia cognitiva pela USP (Universidade de São Paulo), e Nivea Melo, psicóloga clínica pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Mesmo tendo vivenciado o celibato por 22 anos, o ex-padre Roberto Francisco Daniel, 49, de Bauru (SP), excomungado pela Igreja Católica por criticar, entre outros temas, a moral sexual da instituição, não vê vantagens na condição. Para Daniel, o celibato foi criado por razões econômicas, já que seria mais fácil administrar padres solteiros do que casados. “Não tem justificativa teológica. O celibato não foi obrigatório durante mil anos ano da Igreja.”

Padre Beto, como é conhecido, defende que o celibato seja opcional. Ele diz acreditar que a vocação para o sacerdócio e a inclinação para ser celibatário são coisas distintas. “Tenho colegas que se mantêm no celibato, porém sentem falta da vida sexual, de uma companheira e têm problemas afetivos, apesar de serem excelentes padres.”

Por opção

Tornar o celibato opcional seria uma forma de melhorar a vida afetiva dos sacerdotes, na opinião de padre Beto, já que nem todos estão preparados para vivenciá-lo. “Teríamos religiosos mais sadios e uma diversidade na comunidade com padres casados e solteiros“, diz.

Para João Tavares, o trabalho de sacerdote não seria prejudicado pela vida conjugal. Ele afirma que a experiência de pai e marido ajudariam na função ministerial. “É possível trabalhar com mais equilíbrio, realização sexual e emocional.” Segundo ele, existem atualmente 7.000 ex-padres casados no Brasil.

“Sou um padre melhor como um homem casado”, diz Alberto Cutié. Apesar de não questionar o desempenho dos sacerdotes casados, dom Antonio defende a disponibilidade que o celibato promove e não acha que a sexualidade seja um problema para os padres. “É mais difícil viver a sexualidade no casamento do que no celibato”, diz.

Mesmo fora da Igreja Católica, padre Beto continua celebrando missas e casamentos. Mas agora, se quiser, tem liberdade para romper o celibato. “Não está nos meus planos casar, mas, sim, ter relacionamentos “, diz.

 

FONTE: http://mulher.uol.com.br/comportamento/noticias/redacao/2015/06/11/deus-queria-que-eu-fosse-um-padre-casado-diz-ex-sacerdote-catolico.htm

 

 


Entrevista de João Tavares a Vanessa Fidalgo, 10 de junho de 2015

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Resultado de imagem para João Tavares - Padres casadosMais uma vez a imprensa quer saber sobre a vida e a história dos padres casados. Desta vez, a Revista DOMINGO, suplento do CORREIO DA MANHÃ, de Lisboa. A Jornalista e escritora Vanessa Fidalgo (foto), para a sua reportagem “Queriam ser homens como os outros”, entrevistou três padres casados em Portugal e, tendo sabido da existência do MFPC, solicitou à Diretoria para entrevistar alguém do Brasil. Fui incumbido de responder. O artigo de Vanessa, publicado no dia 21/06, também está sendo publicado hoje neste Site.

João Tavares

 

1 – Qual a realidade dos padres católicos casados no Brasil?

R/  Bem sucintamente:

Calculamos cerca de 7.000 padres casados no Brasil. Em geral, continuam homens de fé, bem posicionados socialmente (professores universitários, advogados, políticos…). Com algumas exceções.

Formaram-se, a partir os anos 70, grupos estaduais que, depois, se organizaram a nível nacional na Associação Rumos e no Movimento das Famílias dos Padres casados (MFPC).

Como meios de comunicação, temos o Jornal Rumos, bimestral de 16 páginas e o Site: www.padrescasados.org . Além de um e-grupo com cerca de 900 e-mails de padres casados.

A maior comunicação é via e-mail. E tem se mostrado bastante eficiente neste Brasil de dimensões continentais. 

A cada dois anos fazemos nosso Encontro Nacional. Em Janeiro deste ano fizemos o nosso XX Encontro Nacional em Florianópolis – Santa Catarina.

Fazemos parte da Federação Latino-americana e estamos em comunicação com a Federação europeia e, mais especialmente, com a Associação Fraternitas Movimento de Portugal.

Dificuldades: a média de idade vai adiantada e sentimos a necessidade de animar mais os jovens padres que vão saindo para se juntarem a nós. Mas a nossa formação sólida atemoriza os mais novos. E a visão de Igreja e de Pastoral já é bastante diferente.

 

2. Existem muitos pedidos para deixar o sacerdócio por razões do coração?

 R/ A pergunta é bastante restritiva. Os motivos para um padre deixar o exercício do ministério (não o sacerdócio, que este, segundo a Teologia é indelével), podem ser vários: desânimo, solidão, problemas com a hierarquia, problemas de fé, etc. e, finalmente, a simples vontade de casar, amar uma mulher e ter filhos. Por vezes, a ideia de deixar o ministério e casar, não é uma causa, mas uma consequência de outros problemas não bem resolvidos.

 

3.  Do contacto que tem com a realidade portuguesa nesta matéria, qual é o vosso comentário?

R/ Esta resposta é a nível pessoal: expõe o meu pensamento pessoal, não o do MFPC do Brasil.

Como sou português e milito no MFPC há quase 30 anos, mais intensamente desde 2000, quando fomos, eu e minha esposa, presidentes do MFPC/ Associação Rumos nacional, soubemos da existência da Fraternitas . Desde de 2010,  participamos de dois Encontros Nacionais em Fátima, nos associamos e mantemos bastante contato com as lideranças do Movimento.

Os grupos de Portugal e Brasil, pela sua história e vivência, são bastante diferentes, se bem que os objetivos sejam parecidos.

No Brasil nascemos e crescemos não contra, mas com total independência da Hierarquia. Buscando com ela um diálogo entre iguais. Não buscamos benesses, favores, bênçãos, permissões. Agimos com independência, celebramos juntos, sempre que nos reunimos. Ajudamos com palestras e trabalhos pastorais, inclusive aulas nos seminários, quando solicitados pelos bispos os pelos párocos.

Os bispos e padres nos respeitam. Vários deles são nossos amigos. Mas também nos temem: sabem que, em geral, somos homens sérios e competentes. E que lhes poderíamos ser muito úteis na Pastoral, mas são obedientes demais a Roma que, com João Paulo II e Bento XVI, foi cerceando sempre mais uma nossa possível inserção na pastoral.

De fonte segura sei que a diretiva da CNBB, até há pouco, era nos evitar e não manter conosco relações públicas. Somos, definitivamente, incômodos, uma pedra no sapato da hierarquia.

 

Já em Portugal, fundados por um santo cônego atento às periferias existenciais da nação e da Igreja (ciganos, padres casados, etc…) a Fraternitas não ousou crescer independente e caminhar com suas próprias pernas. A meu ver, se submeteu demais, à Hierarquia, sentindo até necessidade de ter seus Estatutos aprovados pela Conferência Episcopal.

Deixaram o ministério, mas sentiram necessidade de ficar à sombra da mãe-hierarquia, fazem retiro pregado por padres ou bispos, não têm coragem de concelebrar sozinhos, sem a presidência de um padre ou bispo solteiro.

Deixaram a estado clerical, mas o estado clerical não os deixou: ficaram impregnados, mendigando favores e não ousando caminhar com independência, como sal e fermento no Povo de Deus.  Faltou parresia, coragem de serem e de falarem com independência e coragem. Tudo isso, a meu ver, limitou bastante as possibilidades de ação deles como grupo independente e coeso, ao serviço da Renovação da Igreja em Portugal, nos rumos do Vaticano II e de uma Igreja mais Povo de Deus e menos submissão passiva à hierarquia.

 

4. - Conte-nos um pouquinho da vossa história: como se conheceram, como foi difícil tomar decisões, como levam a vossa vida agora, quais as reações sociais…

 R/ Resumidamente:

Nos conhecemos em 1976, quando eu estava em crise com minha Congregação, os Combonianos. Único português num grupo de 30 italianos, único com Teologia do Vaticano II, a um certo momento, sem querer culpar ninguém, depois de uns sete anos de ministério,  não deu mais certo a relação com o bispo e os meus colegas.

Então me dei tempo, fui para a Europa (contra a vontade), trabalhei uns meses em Lisboa na animação missionária, mas não me sentia feliz com um tipo de Igreja nada profética e um país pequeno demais onde o bom era manter a rotina, conservar o existente. Tive convite para ficar na arquidiocese de Milão, onde fiz a Teologia, mas preferi voltar ao “meu” Brasil onde exerci todo o meu tempo de ministério.

Amava muito minha vocação, sobre a qual nunca tive dúvidas, mas com os combonianos não dava mais. Voltei então para o Brasil, ligado à arquidiocese de S. Luís no Maranhão, mas com vontade de me profissionalizar no magistério universitário.  

Foram dois anos e meio de reflexão, oração, aconselhamento com amigos aqui, na Itália e em Portugal. Eu gostava muito do ministério para o qual me preparei durante 15 anos. Foi uma caminhada sofrida na busca de uma boa solução dentro das novas possibilidades.

As reações sociais foram boas, em geral: o povo está mais aberto para o casamento dos padres que a hierarquia. E aprecia a autenticidade.

Desde que cheguei ao Brasil, sempre cultivei boas amizades, inclusive femininas e, caso não desse certo no ministério e viesse a resolver casar, tinha algumas boas possíveis candidatas em vista. Como vim para S. Luís e resolvi ficar aqui, cultivei mais uma boa amiga daqui e, em 1979, casamos.

Como não chegou a licença pedida a Roma em 1978, casamos no civil e esperamos até 1992. Depois de várias tentativas de Roma para eu voltar ao mistério ou mentir, dizendo que não sabia o que fazia quando fui ordenado. Sempre reafirmei que sabia muito bem o que fazia quando fui ordenado e que saí do ministério por livre vontade. Mas o Vaticano não aceitava essa minha atitude livre.

Quando, por volta de 1990,  já com duas filhas, me propuseram deixar tudo e voltar ao ministério, fiquei bravo e respondi ao Vaticano, com dureza e deliberada grosseria, que eu era um homem sério, com responsabilidades familiares e que achava a proposta de voltar, abandonando a família, indecente e criminosa. A não ser que me quisessem aceitar no ministério com minha família.

Finalmente, como não encontraram jeito de me dobrarem, 13 anos depois do pedido, em 1992, chegou o RESCRITO de João Paulo II, me desobrigando das obrigações do celibato e das relativas às Ordens e autorizando o casamento. O casamento, contrariando todas as ridículas proibições do RESCRITO, foi feito na igreja paroquial, cheia de familiares e amigos, concelebrada por vários padres e cantada pelo nosso Coral gregoriano. Éramos muito conhecidos na paróquia e diocese e, desde o casamento civil, sempre demos cursos e palestras religiosas, fui do Conselho paroquial, era convidado a fazer a homilia dominical e era ministro da comunhão.

Tudo o que o Vaticano não aceitava e queria proibir aos padres casados. Só que essa proibição nunca pegou aqui em S. Luís e bispos e padres nunca ligaram para elas. Graças a Deus tínhamos um episcopado e um clero muito livre e sem medo da Cúria romana.

Hoje estamos ambos aposentados da Universidade onde fomos professores de Filosofia, temos duas filhas e uma neta.

João Tavares

Do Setor de Comunicação do MFPC

Queriam ser homens como os outros

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“Padres Casados” – Tema de capa da revista «Domingo», do jornal «Correio da Manhã», de 21 de junho de 2016

 

 Vanessa Fidalgo, Jornalista do “Correio da Manhã”, de Lisboa, fez uma reportagem sobre os padres casados de Portugal para o  suplemento “Domingo” do mesmo Jornal . Informada da existência do MFPC (Movimento das Famílias dos Padres casados), ela também nos solicitou uma entrevista. Aceitei, mas com a reserva de do direito de a publicar na íntegra em nosso Site. Sai hoje, junto com este artigo.

Vanessa, tirando os títulos, como PADRES DEIXARAM A IGREJA PARA PODER CASAR, e outros que não dependeram dela, mas do chefe de redação, foi bastante fiel ao conteúdo das respostas, tanto as dos colegas de Portugal, com quem estou m contato, como as minhas. A foto ao lado é de Luís Salgueiro, o atual Presidende da Fraternitas, movimentos dos padres casados de Portugal – João Tavares

Vanessa Fidalgo 

FONTE: http://fraternitasmovimento.blogspot.pt/2015/06/padres-casados-tema-de-capa-da-revista.html

Sócios da Fraternitas explicam o que faz o Movimento

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Memória: D. Serafim Ferreira e Silva, bispo de Leiria Fátina, no primeiro retiro, em agosto de 1996

A jornalista Vanessa Fidalgo (ver artigos postados ontem) fez nove perguntas a alguns padres casados de Portugal. Além dos três que ela aproveitou no artigo de ontem, mais quatro membros da Fraternitas publicaram as suas respostas integrais – João Tavares

1 – Que visão tem a Fraternitas do celibato?

António Rodrigues Mourinho: O celibato é bom para aqueles quer sejam capazes de ser heróis. Nunca fui adversário do celibato, admiro os que são verdadeiramente celibatários, mas de modo geral foi umas mentiras através dos tempos, a começar pelo Vaticano. Quem não o aguenta é melhor deixar. É melhor casar-se do que abrasar-se (Paulo)

Artur Oliveira e Antonieta: A de que deve ser opcional, como sempre foi na Igreja Católica do Oriente.

Luís Cunha: Dom divino a alguns; conselho do Senhor Jesus para esses; imposição que nenhum ser humano deve fazer.

2 – O que poderia trazer de muito melhor para a sociedade/comunidade e para própria a fé uma Igreja mais plural?

António Rodrigues Mourinho: O sacerdote casado tem outra visão mais real do mundo, da humanidade, da família e até do interior e maneira de agir e pensar do povo simples.

Artur Oliveira e Antonieta: Justamente o efeito da pluralidade: ter muito por onde e que aprender e imitar; ter muito a quem poder servir.

Luís Cunha: Com sacerdotes – homens e mulheres, celibatários, casados e viúvos -, a sociedade/comunidade e a própria Igreja teriam diferentes sensibilidades ao seu serviço e do esclarecimento da própria Fé.

3 – Quais são as principais dificuldades que um sacerdote que decide pedir dispensa por razões do coração e/ou pelo desejo de constituir família enfrenta?

António Rodrigues Mourinho: A família do sacerdote vê nele algo de especial. Se é profundamente cristã, sofre pelo facto de o padre deixar o exercício, mas na maior parte dos casos à família sofre porque perde um certo estatuto social. Enfrenta o perigo da crítica farisaica de outros padres, bispos e religiosas fundamentalistas e nada abertos à realidade humana, natural e sobrenatural

Artur Oliveira e Antonieta: As do jurisdismo hierárquico. A Igreja em vez de comunidade de fé, tornou-se, em muito, uma instituição em que, o que mais vale e manda, não é o Evangelho do Senhor Jesus, mas o Código do Direito Canónico e a tradição (com T minúsculo).

Luís Cunha: Não estar a Igreja preparada com legislação adequada para aceitar e ajudar, até monetariamente, os sacerdotes necessitados que pretendem dar esse passo responsavelmente, o que dá origem a situações irregulares, dolorosas e escandalosas/clandestinas de muitos sacerdotes.

4 – Pensam que estas questões poderão ter resolução num futuro próximo?

António Rodrigues Mourinho: Devem ter e quanto antes. O padre casado é tão útil à Igreja como o padre celibatário e mais bem visto e até desejado. Pelo contrário, o povo detesta o padre de vida dupla ou tripla: 1) Celibatário falso e camuflado, homossexual ou pedófilo. 2) Agarrado ao dinheiro, sem fé. 3) Pouco interessado pelo redil que Deus lhe confiou. E ainda um 4.º: Recalcado e hipócrita.

Artur Oliveira e Antonieta: Não me parece. Era necessário multiplicar por milhões o Papa Francisco.

Luís Cunha: Sim, se os apelos do Papa Francisco ao episcopado em ordem a este lhe fazer propostas corajosas tiverem respostas adequadas que vão nesse sentido.

5 – A lei canónica, que, perante o pedido de dispensa sacerdotal, proíbe o exercício de funções atribuídas pela Igreja durante um certo espaço de tempo representa uma grande dificuldade, certo?

António Rodrigues Mourinho: Esta lei canónica é a coisa mais detestável que a Igreja tem ainda nos nossos dias deve ser abolida imediatamente. Já tem bolor fétido. Foi sempre anacrónica. A liberdade dos filhos de Deus é mais importante.

Artur Oliveira e Antonieta: Certo. Mas um flagrante exemplo de injustiça e ausência de misericórdia por parte de quem se crê filho do “Deus Misericordioso e Compassivo”.

Luís Cunha: Não sei a que se refere esse “certo espaço de tempo”.

6 – Já agora, que período de tempo é este?

António Rodrigues Mourinho: Como digo e penso a lei canónica do celibato é uma lei que para mim é mesmo inimiga da Igreja e mostra o medo que a Igreja tem da liberdade de consciência

Artur Oliveira e Antonieta: Tempo de crise. Quer dizer: tempo em que é preciso repensar e convertermo-nos às origens.

Luís Cunha: (?)

7 – Crê que a chamada crise de vocações poderia modificar-se caso o celibato não fosse obrigatório?

António Rodrigues Mourinho: Creio.

Artur Oliveira e Antonieta: Com certeza absoluta. E mais: que fossem as Comunidades de Fé a ter que ver e voz na escolha de quem a elas preside (homem ou mulher), como foi no princípio.

Luís Cunha: Sim, basta ver o que se passa com o diaconado permanente.

8 – Como reage a sociedade ao padre dispensado, à sua mulher, à sua nova família?

António Rodrigues Mourinho: O meu testemunho, como padre casado, é que o povo me aceitaria melhor do que como padre celibatário.

Artur Oliveira e Antonieta: Bem. Favoravelmente. O que, quiçá, represente a voz do Espírito.

Luís Cunha: Muito positivamente, sobretudo se o comportamento destes for exemplar.

9 – Como é que o ex-padre que casou e constituiu família se relaciona depois com a Igreja e a religião? Não se sente ‘espoliado’? Ou seja está melhor preparado que o leigo mas é obrigado a comportar-se como este.

António Rodrigues Mourinho: O padre casado tem que agir com toda a abertura com o povo e pela experiencia que tenho, é muito bem aceite. É necessário quer tenha um espírito de bondade, compreensão, tolerância, que saiba preparar muito bem a transmissão da palavra e seja muito dado com o povo sem aceção de pessoas.

O padre casado não é tem uma doutrina diferente do padre celibatário. O Evangelho é igual para um e para outro. Na situação atual o padre caso é um espoliado de um direito sagrado que é o sacerdócio que lhe é transmitido pelo Sacramento da Ordem.

Na Igreja não pode haver diferença de trato entre padres casados e padres celibatários. Cristo não escolheu entre homens solteiros e casados. Escolheu Apóstolos e isto é o que interessa. Que haja apóstolos, solteiros ou casados. Isto é que haja apóstolos com o espirito de Cristo. Espiritualmente o padre casado não deve comportar-se como um leigo.

Além disso nenhuma instituição civil tem um homem preso toda a vida por um delito leve ou natural, como é o caso do casamento nos padres e a pena de prisão perpétua é hoje anti – natural e só compreensível para delitos de morte. O padre que casa não faz mais que um ato natural, mas tem a dispensa da Santa Sé Dispensam-nos e depois sem mais nenhuma justificação tiram-nos o direito de continuar a anunciar o Evangelho. Será que a graça sacramental do Matrimónio destrói a graça sacramental da Ordem?! Quer dizer a graça de Deus é destruída por si mesma. Mas não é isto um absurdo!?

Artur Oliveira e Antonieta: O melhor que pode e lhe permitem, afora os casos em que se foi vítima do grave pecado da injustiça, e se continua com razões de queixa.

Luís Cunha: Entendendo o padre dispensado e chefe de família que está de bem com a sua consciência, relaciona-se igualmente bem com o Senhor Jesus e, portanto, sente-se em Igreja que também vai caminhando até ao fim dos tempos. A sua preparação é demonstrada pelo seu testemunho que, se é bom, não fica perdido.

10 – É suficiente a atual preparação que a Igreja fornece àqueles que se encaminham para a ordenação sobre os assuntos dos afetos e da família?

António Rodrigues Mourinho: Não de modo algum. As provas estão bem visíveis. Padres que se ordenam, passado algum tempo deixam o sacerdócio e a Igreja mantem-nos assim até aos quarente anos, sem poderem receber os Sacramentos.

E os padres de vida dupla e tripla!? Sem farisaísmo, esses ninguém os vê.

Artur Oliveira e Antonieta: Positivamente, não. Isto para ficar só por aqui.

Luís Cunha: Suponho que melhorou. A orientação dada aos seus formadores, porém, ainda não será a que se perspetiva num futuro próximo com o Papa Francisco.

11 – Que tipo de aconselhamento dá a Fraternitas aos padres que abandonam o sacerdócio para constituir família?

Luís Cunha: Como membro da Fraternitas, se o “abandonam” quer dizer que se desligam da hierarquia da Igreja segundo os ditames da sua consciência, aconselho que continuem a obedecer a esta. Se manifestam continuar com Fé no duplo sacerdócio próprio do Batismo e da Ordem – cujos sacramentos receberam e imprimiram cada um o seu caráter –, mesmo não podendo exercer o 2.º  a não ser no caso raro previsto no Direito Canónico, lembro a perspetiva do santo “escândalo ao contrário” do Povo de Deus que, hoje, já em 2009,  D. Ilídio, bispo de Viseu, referia. Fazia-o num encontro com padres dispensados ao falar do que pensava o seu Povo quanto ao não aproveitamento dos mesmos (Ver “Espiral”, n.º 38- Janeiro/Março de 2010).

Urtélia Silva:

Em primeiro lugar cumpre-me afirmar que não é ajustada a expressão “abandonam o sacerdócio”, pois não abandonam nunca “ o sacerdócio”, nem nenhum dos dois que possuem: o comum-batismal e o sacramental- da Ordem. Ambos imprimem carácter!… Na qualidade de secretária, durante sete anos e tal, constatei que a atitude de muitos é bem diversa – desde o (grande) afastamento aos seus hierárquicos (eclesiásticos) à proximidade…

Em segundo lugar, a atitude habitual da secretária, não tem norteado “o tipo de aconselhamento”, mas, escutando, vai intervindo quando oportuno, tendo presente a metodologia do Mestre, a pedagogia “não diretiva” de C. Rogers, e, os objetivos da Fraternitas. Ao longo destes quase oito anos, têm sobretudo solicitado ajuda para a busca de emprego/ trabalho/ ocupação remunerada para a família, se a constituíram, ou para sustento pessoal, quando autonomizados. Outros, muitas vezes regressam a casa, à família – o “porto seguro”.

Respostas de Urtélia Silva (ex-Secretária do Movimento Fraternitas):

O que é a Fraternitas?

A “FRATERNITAS MOVIMENTO” é uma associação privada de fiéis, constituída por Padres dispensados do exercício do Ministério, casados ou não, e suas esposas ou viúvas. (Artº 1 dos Estatutos). Os seus Estatutos foram aprovados pela Conferência Episcopal Portuguesa em maio de 2000. Goza de personalidade jurídica e não tem fins lucrativos. Os primeiros Encontros/Retiros deveram-se a um “santo” de Homem – PADRE, o Cónego Filipe de Figueiredo, que incansavelmente reuniu por três vezes no Verão de 1996, em Fátima,  um grupo destes homens da “periferia existencial”, esposas  e filhos – “pescados à linha”.

 Quantos associados têm?

Se considerarmos associados com quotas em dia, não em dia e não pagantes, somos: 62 casais e 28 “singles” (17 viúvas e 11 viúvos e não viúvos) – total 152 pessoas. Considerando, então, apenas os padres dispensados são em número de 73, cuja média de idade ronda os 76 anos e meio. Temos ainda a acrescentar um Assistente Espiritual – em convalescença de doença prolongada, um padre no ativo que após a viuvez retomou o exercício do Ministério Ordenado, e um Sócio Honorário, desde a Assembleia Geral de 2 de maio de 1998 – D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva. Sendo assim, deixando de lado as quotas em dia, mas “de coração” – somos 155.

Quantos elementos tem?

Na qualidade de apenas Movimento, e somo-lo desde a Assembleia Geral de 25 de abril de 2014 – até aí éramos ASSOCIAÇÃO FRATERNITAS MOVIMENTO, somos muitos e muitos mais …A Lista de não sócios de há 18 anos identifica quase trezentos elementos.

Destes, quantos pediram dispensa para casar?

Não é possível responder com dados concretos. Muitos, desvincularam-se do exercício ministerial, não com o propósito imediato de se casarem e com o rescrito provindo da Cúria romana, contraírem Matrimónio.

As razões são diversas: por exemplo, desajustamentos com a hierarquia eclesiástica.

A que missão se propõe? Considerando como missão o cumprimento dos seus OBJETIVOS, ei-los:

  • Ajudar espiritualmente os seus membros, proporcionando-lhes um espaço de encontro fraterno e acolhedor, onde se possam sentir compreendidos e encorajados e fomentar a amizade, a convivência e a solidariedade entre eles;
  • apoiar os membros que se encontrem em dificuldades de qualquer ordem, nomeadamente na consecução duma ocupação profissional sólida, estável e adequadamente remunerada;
  • estudar em Igreja formas de colaboração visando o aproveitamento das capacidades e potencialidades dos seus membros, nomeadamente nas áreas da ação social e da educação religiosa e cívica, bem como em atividades pastorais consentâneas com a sua situação;
  • proporcionar apoio espiritual aos padres que deixaram o ministério e de modo particular aos que ainda não regularizaram a sua situação canónica;
  • memorar os membros falecidos e diligenciar assistência material e espiritual aos seus familiares.

A FRATERNITAS exerce a sua atividade sob as seguintes formas:

  • organização de espaços de oração e reflexão da Palavra de Deus, de cursos, palestras e outras atividades culturais e de formação teológica;
  • promoção de encontros-convívio e de ações do tipo social; publicação do Boletim trimestral “Espiral”;
  • publicação de notícias num órgão reconhecido pela sua ligação à Igreja;
  • publicação de notícias no seu blogue.

 

FONTE: http://fraternitasmovimento.blogspot.com.br/2015/06/socios-da-fraternitas-explicam-o-que.html

Padres Casados: Há ainda muitas coisas que podemos fazer

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Bernardo Eyre* – 03.08.2015

Foto: Padre casado, na Igreja católica

Talvez vai chegar o dia em que o celibato será opcional e padres casados e padres celibatários serão vistos trabalhando lado a lado pelo bem de uma comunidade. Mas antes de chegar tal dia há muita que o padre casado pode fazer. Ele não precisa de um decreto do Papa para chamá-lo de volta ao ministério do serviço.

 O artigo foi publicado em 20 de Fevereiro 2015 no site “The Association of Catholic Priests of Ireland(The ACP of Ireland)  “ Married Priests” : There is still so much we can do.

Há alguns padres casados que lamentam que eles estão excluídos de trabalhos pastorais públicos. De uma certa maneira essa situação é verdadeira porque se você segue o que a Lei Canônica diz sobre os padres casados, então é verdade que eles estão barrados de fazer trabalhos pastorais em público.

Mas se escutamos a voz do povo que chama o padre casado de volta ao ministério então o mundo está aberto para ele fazer trabalhos pastorais como agente pastoral.

Alguns padres casados pensam que o Papa Francisco vai mudar a lei do celibato obrigatório, que ele pode fazer porque ela é uma disciplina e não uma dogma. Eles estão esperando tal dia chegar para que, como eles dizem, “Nós poderemos voltar a ser padres de novo”.

Mas é bom lembrar que quando o padre casa ele não deixa de ser padre porque o Sacramento da Ordem é permanente. Além disso ele ainda é chamado a por em prática o que Jesus ordenou: “Ide pregai o evangelho a todas as criaturas”.

Mas quando um padre casa ele perde sua posição e papel na sociedade. Ele era membro do grupo que se chama Clero. Muitas vezes ele era um vigário responsável por uma paróquia e uma figura importante na sociedade e ele fez muita coisa boa. Mas com o casamento ele perde tudo isso.

O casamento o leva ao nível comum de cada mulher e homem. Alguns padres casados acham que essa perda de status muito difícil, eles tem muita dificuldade de ser um cidadão comum e também tem dificuldade de não ter a última palavra que eles tinham quando eram membros do Clero.

Talvez vai chegar o dia em que o celibato será opcional e padres casados e padres celibatários serão vistos trabalhando lado a lado pelo bem de uma comunidade. Mas antes de chegar tal dia há muita que o padre casado pode fazer, ele não precisa de um decreto do Papa para chamá-lo de volta ao ministério do serviço.

Quando alguém bate na minha porta e me chama para ir ao cemitério e rezar por um falecido ou para ungir algum doente com os Santos Óleos eu não penso duas vezes e não me pergunto: “Eu tenho licença para fazer isso, eu posso fazer isso”? Eu simplesmente me levanto e respondo o chamado. Além disso em virtude da Lei Canônica número 1335

“Os padres casados tem o dever e a obrigação de oferecer os sacramentos aos fiéis quando eles os pedem”. Também a Lei Canônica número 290 diz: “Os sacramentos que os padres casados celebram são válidos”.

Cardeal Francis George com Pe. Mykola Buryadnyk (esquerda) e Pe. Volodymyr Kushnir (direita), suas esposas e filhos. Ambos são casados e têm filhos pequenos …

Mas certos passos podem ser tomados e certas atitudes podem ser mudadas para que o padre casado seja bem vindo nas comunidades e quando o Bispo os chama para uma reunião, para discutir com eles como eles poderiam assumir atividades pastorais na diocese isso seria um bom começo. Mas no final das contas é na paróquia ou comunidade onde o padre casado reside que pode haver mudanças.

Um vigário que recebe um padre casado que mora na sua paróquia pode quebrar barreiras e mudar atitudes. O papel e autoridade do vigário não seria desafiado ou enfraquecido se um padre casado é visto fazendo trabalhos pastorais em colaboração com ele.

Se o padre casado tem o espírito missionário ele é capaz de dividir seu tempo entre seu emprego secular, que ele precisa para poder viver, e seu trabalho pastoral. É possível fazer essas duas coisas e quando ele tem o apoio e compreensão da sua esposa e quando ela também é engajada em trabalhos pastorais não haverá conflito entre ser padre e casado também: eu estou nesta situação.

Pe. Brian (Bernardo) Eire, numa das suas atividades Pastorais/sociais em Recife 

Gostaria de compartilhar alguns dos trabalhos pastorais que eu faço. Conheço também pessoalmente outros padres casados que estão fazendo trabalhos pastorais.

- Visito os doentes nas suas casas ou nos hospitais e celebro com eles o  Sacramento dos Enfermos.  

- Celebro os Ritos Fúnebres nos cemitérios para os falecidos.

- Dou curso Bíblico

- Visito os líderes nas suas casas para dar apoio a eles nos seus trabalhos pastorais.  

- Preparo pessoas para fazer missões populares nas comunidades.

- Ensino a Lectio Divina ou Leitura Orante da Bíblia  para grupos.

- Sou membro do movimento que combate o Trâfico de Pessoas.

- Sou membro do Conselho Paroquial e nesta paróquia sou responsável pela Pastoral dos Edifícios. Há 11 edifícios nesta paróquia que participam desta pastoral. Os edifícios celebram os momentos fortes do ano como:  a Quaresma, o mês de Maio, mês da Bíblia, mês das Missões, Natal em Família.

Muitas vezes as pessoas me perguntam se eu celebro missa pública. A resposta é não. Respeito a lei canônica neste assunto, mas não concordo. Porém eu celebro de vez em quando a missa na minha casa para os momentos importantes da nossa vida como família.

Também concelebro  todas as vezes que eu vou para a missa numa igreja. Faço isso do banco da igreja onde eu estiver porque eu não preciso estar ao lado do altar para concelebrar. Faço isso porque amo a missa e sei no meu coração que sou padre.

Aqui no Brasil há comunidades que não tem missa frequentemente, eles tem missa talvez de 2 a 3 mêses porque o padre da paróquia não consegue visita-los regularmente pois a paróquia dele é muita grande. Eu poderia celebrar com muito amor para essas comunidades.

Mas porque isso não é possível? A situação é a seguinte: Eu poderia ser um padre casado católico responsável por uma paróquia se eu tivesse começado como um padre casado Anglicano. Mas não posso ser um padre casado católico responsável por uma paróquia porque começei como um padre católico celibatário.

Se Deus quiser vai chegar o dia quando esta situação não vai existir mais.

*Bernardo Eyre (Brian Eyre) Recife Pernambuco

irlandês, casado com Marta, 2 filhos, professor,

Fonte: Enviado por e-mail: eyre-br_eyre@hotmail.com

 

Falecimento de padre casado catarinense

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4Ontem à noite, dia seis de julho, faleceu nosso amigo Padre Antônio Germano Herdt. Nascido no Sul de Santa Catarina, ordenou-se padre diocesano na Diocese de Tubarão. Por muitos anos foi pároco da cidade de Laguna. Ali fundou um coral do qual foi Diretor e Dirigente, e fez excursões com ele por vários países, inclusive várias vezes pela Europa. Depois de casado continuou morando em Laguna. Acometido de câncer no pulmão veio a falecer no Hospital de Caridade, em Florianópolis.

Noticiado por Giba.

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